O passado do Cinema Marrocos, no centro de São Paulo, foi glorioso: em 1954, foi considerado o melhor e mais luxuoso cinema da América do Sul, responsável por sediar o primeiro festival internacional de cinema do Brasil. Na abertura do documentário, vemos nomes como o do diretor Erich Von Stronheim, que veio para a exibição de “Crepúsculo dos Deuses” (“Sunset Boulevard”, 1950), de Billy Wilder, onde fez o mordomo da decadente estrela do cinema mudo, Norma Desmond (Gloria Swanson). Também vieram astros de Hollywood, como Errol Flynn e Walter Pidgeon, além do diretor francês Abel Gance. Clássicos como “A Grande Ilusão”, de Jean Renoir, “Júlio César”, de Joseph L. Mankiewicz, “Noites de Circo”, de Ingmar Bergman, e “Pão, Amor e Fantasia”, de Luigi Comencini, foram exibidos no festival. Em 2021, completam-se 70 anos desde a criação do cinema, inaugurado em janeiro de 1951.
Quando a equipe do “Cine Marrocos” pisou pela primeira vez na sala, em 2015, o local estava ocupado por dois mil sem-tetos de 17 países, depois de passar 20 anos de portas fechadas. Eles dormiam em quartos provisórios nos corredores do cinema e no prédio acima. E viviam sob a ameaça de perder suas casas do dia para a noite, devido ao pedido de reintegração de posse feito pela prefeitura. Com a ajuda dos moradores (que são o foco do doc), a equipe do filme reabriu o Cine Marrocos, exibiu os filmes do festival de 1954 e convidou os moradores para uma oficina de teatro.