

Diagnosticado com a doença em janeiro, o magistrado, que tinha 71 anos, chegou a ser internado em Manaus e depois foi transferido para São Paulo.
Carlos Saúl Menem (Anillaco, 1930), presidente da Argentina entre 1989 e 1999, morreu neste domingo, 14 de fevereiro, em Buenos Aires, aos 90 anos, vítima de uma infecção que se agravava com problemas “de base” do coração. Menem sucedeu Raúl Alfonsín no cargo e liderou o retorno do peronismo ao poder após a restauração da democracia. Seu mandato significou moeda forte e corrupção, privatizações e desemprego, dinheiro fácil e pobreza.
Os argentinos lembram Menem com devoção ou desprezo, como o pai de uma grande transformação que liderou com estatura de estadista ou como administrador de uma catástrofe. Quem o defende lembra dos anos sem inflação, do investimento em infraestrutura e da modernização dos serviços públicos por meio da privatização. A paridade do peso com o dólar transformou os argentinos em turistas de primeira classe e produtos importados inundaram o mercado. Eram tempos de “Argentina de primeiro mundo” e de “relações carnais” com os Estados Unidos, já definidas pelo então chanceler Guido Di Tella. “Os anos noventa” logo foram sinônimos de menemismo, movimento que acomodou o peronismo à onda ultraliberal da década.
Seus detratores, por outro lado, veem em Menem o fechamento de milhares de empresas, níveis recordes de pobreza e desemprego e, sobretudo, a introdução da corrupção como forma de política. O “menemismo” era para esse grupo o “menemato”, uma alusão às raízes árabes do presidente. Menem havia vencido as eleições em 1989 como um caudilho do interior que prometia a “revolução produtiva” vestido com um poncho nortenho e com longas costeletas. Mas o caudilho logo raspou as costeletas e trocou o poncho por ternos Armani. E isso desalojou o peronismo.
Fez aliança com os setores mais conservadores do partido e nomeou figuras da tradicional direita para seu governo. O peronismo progressista logo rompeu com ele e travou guerra contra Menem. Mas a bonança econômica parou as revoltas internas. Menem selou um pacto com o radical Raúl Alfonsín para introduzir a reeleição na Constituição e em 1995 repetiu seu mandato.
Seu segundo mandato revelou o esgotamento lento, mas incontrolável do modelo de conversibilidade. Durante o seu governo, Menem privatizou, cedeu ou dissolveu 66 empresas estatais. A venda das “joias da coroa” mais a dívida externa inundou o mercado de dólares. A corrupção foi a marca dos tempos. A frase “roubam, mas fazem” foi cunhada então, em oposição aos radicais, pessoas que os peronistas consideravam honestas, mas sem capacidade de poder. Foram também anos de “pizza com champanhe”, porque o menemismo tinha uma estética própria, filha dos negócios fáceis e da fortuna rápida. A personagem da Casa Rosada compensava com carisma e gestão vertiginosa a sensação de que algo não estava bem. Menem jogava futebol, pilotava aviões, dirigia carros de corrida e se destacou como playboy.
Foi também durante o menemismo que a Argentina experimentou os dois únicos ataques terroristas de sua história: o que destruiu a embaixada de Israel em 1992 e a Amia Judaica Amia em 1994. A Argentina ainda carrega os fragmentos desses ataques não resolvidos. Em 1998, quando a economia estava em colapso, Menem tentou se candidatar pela terceira vez, mas não conseguiu apoio para alterar novamente a Constituição. O peronismo finalmente perdeu as eleições para uma aliança de radicais, liderada por Fernando de la Rúa, e peronistas de esquerda atrás de Carlos Álvarez. A alquimia não durou muito e tudo acabou na crise de 2002.
Enquanto isso, Menem acumulava problemas jurídicos. Em 2001, um juiz o colocou em prisão domiciliar por contrabando de armas para o Equador e a Croácia, apesar dos embargos da ONU. O ex-presidente ficou preso por cinco meses, acompanhado de sua novíssima esposa, a ex-Miss Universo chilena Cecilia Bolocco. Em 2003, Menem tentou ser presidente mais uma vez, mas perdeu para Néstor Kirchner. Ele se refugiou em sua província natal, La Rioja, que o recompensou com uma cadeira no Senado. Ele flertou com o macrismo e mais tarde apoiou o kirchnerismo no Congresso. Os privilégios de senador evitaram a prisão e ele morreu em liberdade, ocupando sua cadeira até o último dia.
CRÔNICA
A bizarra saia da senadora e a prisão de Catatau
Janio Ferreira Soares
Janio Ferreira Soares, cronista, é secretário de Cultura de Paulo Afonso, no lado baiano do Rio São Francisco
“Amigo é Pra Essas Coisas”, MPB4: !!! ÚNICO, COMO O APREÇO !!!
BOM DOMINGO!!!
(Gilson Nogueira)
Nesta sexta-feira, Bolsonaro concretizou parte do acordo firmado com o Centrão em troca de seu apoio por Lira. Ele nomeou o deputado federal João Roma, do Republicanos, para o Ministério da Cidadania em substituição a Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que foi deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência da República. Roma é amigo e ex-assessor de Antônio Carlos Magalhães Neto, o presidente do Democratas que se aproximou do Planalto rompendo com o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). Com o movimento, o mandatário começa a pagar a sua fatura em troca de uma base de sustentação legislativa. Ainda restam entre dois e três ministérios a serem entregues ao Centrão, o que deve ocorrer nas próximas semanas.
Os movimentos no xadrez político de Bolsonaro ocorrem a um ano e 8 meses da eleição. Mas, de pronto, já começaram a minar alianças que estavam sendo planejadas pelo campo autodenominado “direita democrática”. A principal delas foi a articulação feita por DEM, MDB, Cidadania e PSDB. As quatro legendas rascunhavam um acordo para seguirem juntas em 2022. Seu candidato seria João Doria (PSDB), o governador paulista que já foi aliado de Bolsonaro, ou Luciano Huck, o apresentador da maior emissora de TV do Brasil, a Globo, que paquerava uma filiação ao DEM ou ao Cidadania.
A implosão do DEM afastou Huck dos democratas, mas há ainda a esperança do Cidadania de tê-lo em suas hostes. Além disso, dos 27 deputados do DEM, 6 disseram que apoiarão a reeleição de Bolsonaro, 14 não descartaram apoiá-lo e apenas dois disseram que não se aliarão ao presidente. Os dados foram levantados pelo jornal O Estado de S. Paulo. “O que o DEM tem dito é que não fechará nenhuma porta, nem mesmo a Bolsonaro. Se o presidente se moderar nos próximos dois anos, o DEM consegue se justificar e seguir com ele, caso contrário, pode tomar outro rumo”, avalia e cientista política Lara Mesquita, que é pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas.
No PSDB, Doria se sentiu forçado a marcar território. Tentou controlar diretamente a Executiva Nacional do partido, atualmente comandada pelo seu então aliado o ex-deputado Bruno Araújo. Mas os figurões da sigla reagiram e estenderam o mandato de Araújo para 2022. De pronto, Doria se enfraqueceu no processo, sinalizou que pode deixar a legenda e viu outro tucano despontar como potencial presidenciável: Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul que quer ser uma nova oposição a Bolsonaro. “O Doria é uma liderança de luz própria. Os velhos elefantes do partido não o veem com bons olhos. Ele é uma das pessoas mais pragmáticas da política brasileira. Tanto que se aliou a Bolsonaro para se eleger governador”, diz a cientista política Mariana Borges, pesquisadora em Oxford.
Para as duas pesquisadoras consultadas pela reportagem, ainda é cedo para os partidos definirem qualquer cenário. “Tudo ainda depende da economia e de como o Governo vai reagir à pandemia [de coronavírus]. Também tem de ser levado em conta a avaliação da população sobre os processos judiciais contra os filhos do presidente”, diz Lara Mesquita. A narrativa que Bolsonaro empregou na eleição de 2018, de ser um político antissistema também será posta a prova. “Ele está claramente adaptando o seu discurso extremista. Vamos ver até onde isso vai durar”, afirma Mariana Borges.
Da mesma maneira que a direita anti-bolsonaro, a esquerda também enfrenta severas dificuldades de articulação interna. O PT já colocou em prova sua hegemonia nesse campo na última semana, quando o ex-presidente Lula lançou a candidatura do ex-prefeito de São Paulo Haddad e disse para ele percorrer o Brasil em uma espécie de pré-campanha. O PDT se aproxima de uma aliança com o PSB para relançar o ex-governador do Ceará Ciro Gomes. E o PSOL sinaliza que deve seguir com o professor universitário Guilherme Boulos. Ou seja, seria a repetição dos três candidatos que foram derrotados por Bolsonaro na disputa passada. A diferença agora é que Boulos ganhou projeção nacional ao disputar o segundo turno com Bruno Covas pela prefeitura de São Paulo, a maior cidade do Brasil. “Os partidos estão se movimentando porque sabem que se não começarem a se movimentar, eles não terão um candidato do dia para a noite. O Bolsonaro, mesmo, ficou quatro anos fazendo campanha”, diz a pesquisadora Lara Mesquita.
Para Mariana Borges, uma das falhas da esquerda brasileira, especialmente do PT, é manter-se focada no Estado de São Paulo na hora de falar em candidatos, ignorando outras regiões brasileiras. Ela cita que, ao escolher Haddad, Lula deixa de lado lideranças baianas do partido, como o senador Jaques Wagner ou o governador Rui Costa. “Talvez apresentar um nome que não seja tão ligado ao Lula seria a alternativa para atrair os outros partidos de esquerda”, diz.
Outra conta que tem sido feita pelas legendas é a da cláusula de barreira. A partir de 2023, só terá acesso aos fundos públicos eleitoral e partidário quem atingir 2% dos votos válidos para a Câmara em nove Estados ou eleger ao menos 11 deputados. Atualmente, a doação eleitoral privada é proibida no Brasil. E é quase consenso entre os partidos que, sem uma candidatura presidencial como uma vitrine, dificilmente se elegem tantos deputados federais. Como o Brasil tem 33 partidos registrados, sendo que 24 têm representação na Câmara, a tendência é que haja uma disseminação de candidaturas presidenciais.
O ex-presidente Donald Trump foi absolvido da acusação de “incitamento à insurreição” pelos tumultos durante a invasão do Capitólio. O mundo acompanhava o julgamento desde a última sexta-feira (12/2), quando os advogados do ex-presidente argumentaram a favor de Trump. O processo de impeachment do magnata no Senado norte-americano foi marcado pela divulgação de imagens inéditas dos violentos acontecimentos de 6 de janeiro.
Depois de anunciada a decisão, o ex-presidente republicano, que está banido das redes sociais desde que deixou o poder, em 20 de janeiro, comemorou o resultado e denunciou o processo como “mais uma fase da maior caça às bruxas da história” dos Estados Unidos.
Trump também prometeu ações para o futuro: “Nosso movimento magnífico, histórico e patriótico, Make America Great Again (Faça a América Grande Novamente), acaba de começar”, disse Trump em um comunicado. “Nos próximos meses terei muito a compartilhar com vocês e espero continuar nossa incrível aventura pela grandeza da América” (Estados Unidos), acrescentou.
Este é o segundo julgamento de impeachment contra Trump, que em 2020 também foi absolvido em um processo por abuso de poder.
No entanto, após votar contra a condenação do ex-presidente, McConnell admitiu no plenário que Trump é responsável “moralmente e na prática” por ter causado os incidentes de 6 de janeiro.
O processo durou cinco dias e foi encerrado com um apelo de legisladores democratas, que acusaram o ex-presidente de ter “traído” os Estados Unidos. A defesa, por sua vez, classificou as acusações de “absurdas”.
O advogado de Trump, Michael Van der Veen, disse que, independentemente do horror mostrado nas imagens dos distúrbios no Capitólio e da emoção imbuída nos argumentos, isso “não muda o fato de que Trump é inocente”. “Chegou a hora de acabar com este teatro político inconstitucional”, concluiu.
Os democratas que buscavam uma condenação para em seguida desqualificar politicamente Trump, acusaram o republicano de “abusar de seu poder ao se aliar aos insurgentes”.
O líder da acusação, o congressista democrata Jamie Raskin, disse que está claro que “Trump apoiou as ações da multidão, então ele deve ser condenado”.
David Cicilline, que também participou da argumentação final, acusou Trump de violar seus deveres. “No momento em que mais precisávamos de um presidente para nos proteger e nos defender, o presidente Trump nos traiu deliberadamente”, criticou.
A confusão reinou no Senado por duas horas depois que Raskin indicou que desejava acesso ao testemunho da legisladora republicana Jaime Herrera Beutler e às trocas de mensagens com o líder da minoria republicana na Câmara Baixa, Kevin McCarthy.
Herrera Beutler – uma das poucas republicanas que votou pelo impeachment de Trump na Câmara dos Representantes – disse em um comunicado que McCarthy disse a ela que Trump expressou aprovação para a multidão que invadiu o Capitólio.
A congressista indicou que em 6 de janeiro, quando McCarthy “finalmente” falou com Trump para lhe pedir que falasse publicamente contra os distúrbios, a princípio o presidente repetiu a “mentira” de que foram membros do movimento Antifa que entraram no Capitólio.
“McCarthy rejeitou isso e disse que eram simpatizantes de Trump e então, de acordo com ele, o presidente disse: ‘Bem, Kevin, acho que essas pessoas estão mais chateadas com a eleição do que você'”, disse o legislador.
O senador republicano Ted Cruz alertou que isso poderia abrir “uma caixa de Pandora”. Finalmente, um acordo permitiu que a declaração de Herrera Beutler fosse lida no plenário e incluída na ata.
Tanto democratas quanto republicanos querem encerrar o processo. O presidente democrata Joe Biden quer que o Senado esteja disponível para votar as propostas prioritárias de sua agenda, incluindo o plano de alívio econômico.
*Com informações da Agência France Presse