ARTIGO
ABSURDO
Gilson Nogueira
Era início de noite. De repente, um time de homens, em pé, no gramado, localizado na frente do Hospital Santo Amaro, colado ao viaduto que leva ao Cemitério do Campo Santo, na Federação, chama-me a atenção. “O que aqueles caras estão fazendo alí?”, engoli a pergunta, que me fiz, e fui dormir. Na manhã seguinte, a surpresa!
Em uma área pública, que recebe o aplauso dos que a conhecem, diversas árvores dão um verdadeiro presente à cidade de Salvador e aos que nela habitam. Os pombos, os passarinhos e os bichinhos miúdos fazem dali seu habitat. O homem, predador por natureza, apronta das suas. A maior de todas, na terra do saudoso Berereco, acredito, testemunhei,semana passada, e fiquei de queixo caído, como se diz na Capital dos Absurdos.
Um campo de futebol, quase de tamanho oficial, demarcado ao meio, com uma faixa branca, como em suas laterais e ao lado das traves. Traves? Sim, de bambu, enormes! ” Entendo que liberou geral!”, exclamei, em silêncio. E fui, conversando comigo: ” Meu Deus, como é que pode, uma área verde, cuidada, com carinho, pela Prefeitura, transforma-se, da noite para o dia, em Campo de Futebol!?” Bati um abacate, no liquidificador, para segurar o susto, e fiquei, alí, perplexo, aguardando a “entrada” dos times em campo,com o juiz e os bandeirinhas.
Não apareceu ninguém. Na véspera do primeiro sábado de Outubro de 2020, o campo continua lá! Não vi a bola rolando, durante o dia. À noite, seria impossível, pela falta de refletores. Por enquanto, no campeonato das coisas que “só se vê na Bahia”, o placar favorece ao Cara de Pau Esporte Clube. Tomara que o árbitro dê as caras e expulse os “atletas” de campo. Jardim, por enquanto, na Capital do Berimbau, não é para qualquer um fazer o que bem entende. “Espero ouvir o apito dos home!”, falo, sozinho, torcendo por uma providéncia da Comuna. Afinal, se ela não entrar em ação, vamos ter que lamentar acidentes graves. Imagino uma bolada no rosto da motorista que leva seus filhos, a bordo de uma camionete, para visitar a vovó em Nazaré ou de um paciente que acaba de deixar a Emergência.
Vou continuar torcendo para o Cara não ganhar o jogo. Por enquanto, ele está dando goleada. E sorrindo para a galera.
Gilson Nogueira é jornalista, colaborador da primeira hora do Bahia em Pauta.