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O futebol sem torcida nos estádios é como o palhaço no circo sem ninguém para vê-lo. Longe de mim a ideia de psicologizar o jogo com dois times disputando uma partida em um campo de arquibancadas vazias e o palhaço fazendo sorrir o vazio fora do picadeiro.
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Que onda, meu rei, ao final das férias dos chamados atletas profissionais, uma pandemia entra em campo para aterrorizar o mundo, ou quase! No embalo da vontade de penetrar na seara livre para explicar o que os atletas profissionais sentem atuando no silêncio quase total, onde o apito do juiz deve ecoar até as nuvens, levo cartão vermelho. Resolvo, então, mergulhar no tubo do meu eu vivido para admitir, se em campo de jogo estivesse, suando a camisa, estar o jogador, em cada encontro, nos campeonatos nacionais, envolvendo todas as suas divisões, creio, experimentando um conflito.
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Qual? A voz do público nas arquibancadas, entre aplausos e vaias. Presumo, estarem eles, os artistas da bola, vivendo um drama. Em campo, sem a
presença dos seus torcedores a incentivá-los, até o domÃnio da bola fica comprometido. No futebol, seja onde for praticado, há o lado artÃstico que vem da alma do ator para seu público. Sem ele presente, esse componente no instante do passe, do chute, do drible, da jogada criativa, para o torcedor ver e sentir, não existe.
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O futebol sem torcida junto tem algo de sexo sem desejo, de silêncio pertubador. Pelé, o maior jogador de futebol do Século XX, não teria sido O Deus dos Estádios sem ela, a emoção da plateia a massagear-lhe o ego. Foi ela que o tornou O Picasso dos Gramados.
Gilson Nogueira é jornalista, colaborador da primeira hora do Bahia em Pauta.