…Sara e Damares: escárnio conta a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
ARTIGO DA SEMANA
Inv(f)erno de Sara e a segunda onda Bolsonaro
Vitor Hugo Soares
De tornozeleira eletrônica plugada a uma das pernas, desde que deixou a cadeia, para onde foi mandada pelo ministro Alexandre de Moraes (STF) – por violação das normas de convivência democrática e ameaças graves à suprema corte de justiça, seus membros e até empregadas domésticas dos ministros – a provocadora de direita Sara Geromini, apelidada Sara Winter, ressurgiu de repente. E indignou grande parte da sociedade brasileira, pelo “modus operandi” e o escárnio de sua atuação no circo de horrores montado no fim de semana passado na rota Brasília (DF), Vitória (ES) e Recife (PE), durante medieval operação de acosso religioso, político e governamental, para impedir o cumprimento de decisão judicial que autorizava procedimento médico legal de aborto na menina capixaba violentada desde os seis anos e engravidada aos 10 por um tio que já está preso.
Merece atenção especial, a desenvoltura ao delinqüir da “ativista” que prometeu “transformar o inverno brasileiro de 2020 em um verdadeiro inferno”. Mais ou menos o que ela acaba de conseguir, quando a estação já caminha para o seu final no hemisfério sul, ao servir de espoleta na articulação e comando remoto de um dos episódios mais insanos, deprimentes e vergonhosos da história recente na Nação.
Foi a “ativista”, desde o DF, o pivô do tumulto descomunal que se formou, a partir do momento em que o caso despertou o interesse da ministra da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e dados em segredo de justiça – com nome da menina, endereços de sua família e do hospital onde a vítima de estupro passaria pela cirurgia – chegaram às mãos de Winter, que tratou de torná-los públicos, via redes sociais, açulando os cães raivosos que a seguem. E tivemos o espetáculo grotesco e desumano, para não esquecer. Marcado pela intolerância religiosa (de grupos evangélicos e católicos, juntos, em atitude de atraso e desvario), misturada às mais abjetas demonstrações de exploração política e eleitoral de diferentes tendências do espectro partidário e ideológico nacional – somadas para produzir, na capital pernambucana, um novo e desonroso marco de desrespeito e violência contra o Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil: o ato machista, cruel e medieval, promovido diante do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), para ofender a menina violentada – com gritos de “prostituta”), além de ameaçar e constranger profissionais no exercício legal da medicina.
É agosto de 2020, do inv(f)erno da nossa desesperança. Tempo temerário da pandemia Covid-19, que segue matando e endoidando pessoas. E deste rastilho de ódio, desacato e insanidade, que ainda sacode e envergonha o País, mas igualmente repleto de bons exemplos de capacidade e eficiência profissional e resistência ética.
Por mera coincidência (ou não?) é tempo também sacudido pela “segunda onda bolsonarista”. O mandatário do Palácio do Planalto surfa praticamente sem sombras a incomodá-lo, embalado pelos números favoráveis nas recentes pesquisas Datafolha. Nada a braçadas em novos palanques no mar dos sonhos da reeleição em 2022. Precisa estímulo de impunidade maior para Sara infernizar o fim do inverno brasileiro com os que manejam os cordões do boneco mamulengo? (e aí ministra Damares, pastores evangélicos e arcebispo de BH, presidente da CNBB, Dom Walmor Azevedo, entre outros?). Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br
Procedente, pertinente e oportuno o comentário
inserido em seu brilhante artigo, mestre Vitor.
Ateu convicto, conquanto com todo respeito à crença do outro, tenho arraigado em mim que as religiões são o grande atraso da humanidade – em nome delas se comete as maiores barbaridades contra o ser humano.
Hitler foi um assassino fanático que matou milhões de pessoas, durante seis anos, em nome de sua alucinada crença, nada a ver com religião, mas sim com poder.
A Igreja Católica fez o mesmo, só que durante 6 séculos, durante a maldita Inquisição, invocando a crença em dogmas para assim manter o domínio, o poder e a riqueza.
Fiz a digressão acima pra ativar a memória num momento em que assistimos a barbaridade motivo de seu comentário – a ala mais alucinada e atrasada das religiões se une à mais putrefata da política para perpetrar o show de horrores que acabamos de presenciar.
E eles fazem isso em nome de um Deus…
Carlos Volney
Verdade, Volney. Pura verdade a sua reflexão. Agradeço a parte referente ao artigo da semana deste jornalista honrado e lisongeado com seu comentário. Forte abraço. raço
A mim fica a dúvida (ou não). São religiosos ou canalhas?
Amigos e irmaos. Eu era pequena e minha avó dizia que estava viva por sorte ou acaso. Pois em 1918 trabakhava como enfermeira num grande hospital publico na Urca , bairro onde moravs numa pensao de moças solteiras. Ela tinha vindo para o Brasil aos 16 anos em 1910. Queria tentar uma vida melhior e fugiu num navio que pegou no porto de Vigo com passagem de terceira classe paga pela avó dela. A Espanha ja se pteparava para um futuro triste de regime franquista. Vó Carmen largou pai e mae e uk irmao 8 anos mais moço. Ela me contou que pulava cadáveres de manha nas calçadas pq as familias deixavam seus mortos para serem tecolhidos pelas carroças puxadas a burros da companhia de limpeza da época. A triste gripe espanhola dizimou milhoes. A ciencia nao tinha o avanço que tem hoje. O sofrrimento atingiu continentes. Ela se casou com meu avo em 1920. Meu pai foi o primeiro filho nascido em 1922. O casal era catolico e convivi muito com eles na infancia. Aprendi a ter fé como defesa emocional. Gosto de rezar mas nao defendo tanyas
Tantas injustiças ou fundamentalismos radicais que as religioes cistumam incentivar. Por exemplo eu nao faria aborto mas nao me julgo no diteito de condenar quem o faça por tantas razoes até de sobrevivencia. O que me motiva a orar é desejar o bem aos seres. Humanos ou vegetais. Animais de todas as especies. A nossa anda mesmo perdida. Meu unico filho que acaba de me dar uma neta é ateu praticante. Vim a Bradilia conhecer Lua. Uma princesinha que veio ao mundo ha uma semana. Moro no Rio. Tenho quase 71 anos. Acho que o Deus que creio é o Amor. Ele acontece na caridade. Quando se pode ajudar os outros isso sim é a verdadeira teligiao. Ajuda material ou emoconal.
Nao cultivo revolta ou desespero. Mas lanento muito tudo que ora acontece. Torço por uma humanidade humilde. Pode ser um sonho. Eu sei. Mas sonhar também ajuda na luta contra ideologias totalitarias ou fascistas ou que nos agridem ou desrespeitam. Ou nos roubam e sao como no poema de Mayakovisky, aqueles que roubam nossos jardins. Por isso sigo orando. Para que tenhamos resistencia e possamos salvar o Planeta. Voces estao certos. Ha um drama de narrativas unfelizes no ar da Terra. O coronavirus é só mais um grande desafio. Como foi a gripe espanhola e outras pandemias como a peste negra, etc. Nao é preciso crer em Deus para fazer o bem ou ter esoerança. Desejo saude e paz aos companheiros. Agradeço por fazerem parte da minha caminhada.
A lisonja é minha, mestre Vitor, por ser referenciado por você.
Belíssima reflexão da Maria Aparecida – a quem não tenho o prazer de conhecer – aí acima. Gente com pensamento assim, tamanha sensibilidade, fazem com que a gente continue tendo sempre esperança na humanidade.
Grande abraço aos dois.
Obrigada Carlos Volney. Estamos juntos. Hs um mundo a ser refeito. Vamos encarar com fé nas novas geraçoes! Abrçosa
Volney:
Um esclarecimento deste editor distraído (como dizia o saudoso poeta de Marília(SP), Luiz Fontana – mesmo que tardio, mas acho que em tempo ainda: a jornalista e escritora do Rio de Janeiro Maria Aparecida Torneros – a Cida Torneros amiga especial e do peito – é nome referencial deste site blog há anos, na verdade desde os primeiros passos mais inseguros do Bahia em Pauta. Na verdade uma colaboradora, conselheira e pilastra intelectual e cultural de sustentação do BP. São assinados por Cida alguns dos mais belos, empolgantes e expressivos taxtos publicados neste blog. A autora do livro “A Mulher Necessária” (cuja letura recomendo) parou de escrever por aqui seus artigos há algum tem por razões que são só dela (e que o BP respeita, mesmo sentindo a falta).Mas Cida Torneros sabe que o tapete vermelho deste site blog segue aberto, aguardando o seu retorno, alem de seus maravilhosos e lúcidos comentários, como vc observa. Forte abraço.
Conquanto válido o esclarecimento, mestre Vitor, sei bem de quem se trata, sempre acompanhei os comentários dela aqui, bem como suas referências merecidamente elogiosas a ela.
O que me encantou aínda mais foi a sensibilidade de ser humano revelada.
Estamos juntos – como bem disse ela – e estaremos sempre. Esse blog é insuperável…
(viva as reticências).
Volney
É isso. Estamos juntos. Forte abraço para você e Cida.