BRAVA TRAVESSIA DE JOÃO CARLOS TEIXEIRA GOMES (JOCA)
Vitor Hugo Soares
Bate vigorosamente na porta dos 80 o jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes. “Dito assim parece à toa”, mas o verso do samba famoso, sobre feitiço e paixões, me vem providencialmente à memória na incrível sexta-feira (4), da Operação Aletheia (a busca da verdade): vigésima quarta etapa da Lava Jato..
E o que tem a ver com isso Teixeira Gomes, filho orgulhoso e homônimo do lendário goleiro do Esporte Clube Bahia, nos tempos de glória do antigo e extinto Campo da Graça, dos grandes embates do futebol baiano? Perguntarão alguns leitores mais apressados e menos informados. Muito a ver, respondo e garanto.
Conheço tão de perto, e de tão longa data, o personagem principal deste artigo que não tenho dúvidas em afirmar: Joca (assim é chamado, com carinho e admiração), será o primeiro a entender e aceitar as justificativas para a divisão do espaço dedicado a ele, com a operação da PF que mexe com os nervos do PT, do Planalto e do País . Ainda que resmungue, ele conhece, proclama e acata, como poucos da sua profissão e crença no jornal, no livro e na verdade (ontem e hoje ) a força de “Sua Excelência, o Fato”, na sábia denominação de Charles De Gaulle.
Ontem (4) fui tirado da cama, bem cedo, pelo telefonema da vibrante irmã jornalista, que avisa sobre a movimentação “da Federal”. Ligo de imediato a TV no canal privado Globo News.Começo, então, a acompanhar a cobertura nervosa mas eficiente (imagens, informações, comentários opinativos). Logo em seguida, helicópteros começam a sobrevoar bem diante da janela do apartamento onde moro, em um bairro de classe média de Salvador, a poucos metros do heliporto de uma unidade do Exército, na VIª Região. Ultimamente, para mim, este tem sido um termômetro seguro da temperatura política e social. Sinal barulhento de que alguma coisa de grave acontece ou repercute na Cidade da Bahia, de onde escrevo estas linhas semanais.
Na mosca! Ou tiro e queda, se preferirem.
Assim, em meio à tensão e ambiência tão comuns e recorrentes na profissão que abracei, preparo-me para acompanhar, mais uma vez, outra encrenca nacional, com passagem por meu portão. E, ao mesmo tempo, cumprir a pauta que havia me proposto na véspera: compor um perfil pessoal da figura, do caráter profissional e da trajetória de vida de João Carlos Teixeira Gomes, o teimoso e inveterado resistente da imprensa, da cultura, do ensino e das letras em sua terra.
Mestre do discurso impresso da Bahia e do Brasil, que festeja semana que vem (09/03) seu aniversário de nascimento do modo e jeito que ele mais gosta: produtivo, irrequieto, barulhento, provocativo e cercado de polêmicas por todos os lados. O evento comemorativo coincide com o lançamento do novo livro e acontece a partir das 16h30, na Livraria Cultura, do Salvador Shopping.
O último dos moicanos da imprensa de resistência, antes da invasão dos meios de comunicação, em geral, pelos “hunos marqueteiros” (primeiro na Bahia dos anos 70/80 e depois no País), tornando cada vez mais difícil separar o que é informação e o que é propaganda. Notícias ou fofocas. Economia ou negociatas vulgares. Políticos, governantes e homens públicos e estadistas ou meras celebridades e aventureiros de ocasião. Embusteiros, palavra preferida de sua pena implacável para fustigar canalhas. Desvios eticamente intoleráveis, contra os quais JC Teixeira Gomes (como ele assina seus textos ultimamente) briga e se insurge desde sempre.
E assim ele festeja a chegada aos oitenta. Na quarta-feira, 9, coincidindo com a nova idade, vai lançar “A Brava Travessia”: Memórias, Viagens e Artigos do Pena de Aço”.
Gregório de Mattos, o Boca de Brasa, de quem Joca Teixeira Gomes é um dos maiores e mais reconhecidos estudiosos da obra, não teria feito melhor.
“É um longo percurso, marcado por muitos momentos difíceis, pois grande parte da minha militância verificou-se sob a ditadura militar, quando eu chefiava o “Jornal da Bahia”, definiu Joca em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia. Encurto o caminho para não me tornar cansativo e repetitivo. Outros dirão mais e melhor sobre o poeta, o romancista, o ensaísta, o contista, o acadêmico e o professor de inúmeras gerações na UFBA. Vibrante, inspirado, fulgurante no que fala e no que escreve, como assinalou Joaci Góes em artigo brilhante, sobre o aniversariante, publicado na TB.
Diante dos fatos nacionais referidos na abertura deste artigo escolho, antes do ponto final,o João Carlos Teixeira Gomes tempestuoso e profético, o jornalista ao lado do qual caminhei muitas léguas e de cujos ensinamentos e exemplos bebo anos a fio. Orgulhosamente.
O Teixeira Gomes, por exemplo, deste trecho do discurso de saudação na cerimônia de posse de Joaci Góes na Academia de Letras da Bahia (presente o saudoso João Ubaldo Ribeiro), em setembro de 2009:
“O poder no Brasil nunca está a serviço da sociedade e sim de grupos que o detém… Predomina hoje no país, mais do que nunca, a ideologia do oportunismo, acintosa e corrosiva, promovida por conhecidos e diariamente citados políticos desavergonhados, íntimos dos cofres públicos e privados. Só não os cito nominalmente aqui, porque além de notoriamente conhecidos, não pretendo perturbar com revelações óbvias este clima de confraternização e de festa”.
“Mas todo momento é importante quando se trata de denunciar e combater as fraudes das instituições e o esvaziamento da Democracia. A consciência social não pode acomodar-se e deve agir como instrumento de libertação”…
Bravo! Esse é Joca, Pena de Aço, que a Bahia conhece e aprendeu a querer bem e admirar. O Brasil também, mais ainda nesta encruzilhada da travessia de combate contra a corrupção, o embuste e busca da verdade.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
Caro Editor Vitor e demais amigos do Bahia em Pauta. Recebam todos os meus sentimentos de tristeza pela perda do mestre e amigo João Carlos Teixeira Gomes, Joca. Desejo que vocês encontrem forças para aceitarem com resignação esta manifestação da natureza. Com toda a certeza o “Joca” fechou com muitos méritos o ciclo completo da vida. Foram muitos anos de vitórias. A saudade será muito grande, no entanto, que fiquem as ótimas lembranças, pois nada poderá apagar da memória de vocês os belos momentos que compartilharam.
Vanderlei: Muito obrigado, amigo do peito do Bahia em Pauta, pela solidariedade, estímulo e lição de garra de que estávamos precisando, para novo impulso. BP retoma nesta terça-feira, 23, suas atividades normais. Ou quase. Porque sem Joca nunca mais seremos os mesmos. Nem a Bahia. Forte abraço (Vitor Hugo, editor).