“Cara e Coração”: disco histórico de Moraes lançado por
Ana Maria Machado na Rádio JB: passagem inesquecível…
…e Wally Salomão: polêmica com Moraes com destaque n Caderno B do JB.
ARTIGO DA SEMANA
Cara e Coração: Moraes se vai
Vitor Hugo Soares
Na minha trajetória profissional, no Jornal do Brasil, onde passei 17 anos, tive duas indeléveis passagens envolvendo Moraes Moreira. Notável instrumentista, compositor, cantor e inventor que deu voz ao trio elétrico no carnaval baiano. Morreu de infarto agudo, esta semana, em seu isolamento contra o corona vírus, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro, a cidade que sempre o acolheu, entendeu e fez justiça ao seu imensurável talento. Com a Cidade da Bahia, merecedora de seus versos mais bonitos e amorosos – “olha, imagina só, que loucura esta mistura, alegria, alegria é o estado que chamamos Bahia”…- sua relação sempre foi instável: da paixão mais exaltada aos mais explosivos afastamentos. A primeira nos Anos 70, na sede do JB, na Avenida Brasil, 500, em plena ditadura. Era, também, a fase preparatória da inauguração da Radio Jornal do Brasil FM Salvador – referencial experiência de radio jornalismo na capital baiana, no mesmo espaço da sucursal do JB, no bairro Pernambués, cuja redação eu tocava. Isso me levara ao Rio, no mesmo período em que Moraes lançava “Cara e Coração”, disco em vinil que deu vigoroso impulso nacional à carreira do artista de Ituaçú . Foi quando tive a primazia e impacto de escutar a fantástica composição que dá título ao álbum, a convite de Ana Maria Machado, quando a brilhante escritora de histórias infantis – mais tarde presidente da Academia Brasileira de Letra ABL– coordenava a Radio JB-AM , e apresentava, no começo da tarde, um dos programas de lançamentos discográficos de maior audiência e prestígio do Rio e do país naqueles anos loucos. Jamais esqueci da intensa emoção que senti, quando os primeiros acordes de “Cara e Coração” ecoaram no estúdio. Ana Maria percebeu e disse: “Se prepare, porque quando retornar a Salvador você vai ouvir muito, pautar e escrever sobre este incrível músico, compositor a cantor da terrinha”. Na mosca!.
Nos Anos 80 vivi novo fato marcante, desta vez em Salvador, mas tendo o legendário Caderno B do JB como pano de fundo. No Carnaval de 1988, quando a sempre brilhante e antenada dupla de jornalistas Zuenir Ventura e Artur Xexéo (formada na VEJA) editava o B, e o carnaval baiano ganhava foro de evento cultural, nacional e internacional. Aí explodiu o duelo intelectual entre Moraes Moreira x Wally Salomão (coordenador do carnaval na administração do prefeito Mário Kertész). Em embates épicos nas TVs (que os jornais repercutiam), o autor de “Chão da Praça” falava de seu desconforto com a perda de espaço do frevo baiano dos trios – que ele, Osmar e Armandinho simbolizavam – para dar mais chão e visibilidade aos grupos afros, como defendia Wally. Moraes ameaçava deixar a Praça Castro Alves, para ir tocar e cantar na folia de Recife e Olinda. Foi quando Xexéo mandou telex “abrindo as portas do Caderno B para esta briga”. Sopa no mel. Lembro de ter tido três ou quatro textos seguidos sobre a polêmica, assinados na primeira página do B. Até que o prefeito e a turma do deixa disso na comunicação da prefeitura (Roberto Pinho e João Santana à frente) entraram para apartar a briga, reunindo os contendores na sede municipal para “selar umo armistício”. No fim, os gritos: ”Beija, beija, beija”. Mas Wally recusou com uma tirada ao seu estilo: “Tudo, menos beijar essa boca de vassoura”. Não esqueço a manchete do Caderno B, no final da briga: “Na Bahia, tudo acaba em festa”. Grande Xexéo. Saudades de Moraes!!!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br
“Uno”, Edmundo Rivero: um antológico tango portenho e um intérprete inimitável , para recordar o “Viejo Almacém” e as noites incomparáveis de Buenos em tempos sem a covod-19 espreitando nos cafés, bares e nas ruas. Saudades!
Ogi Fernandes, do STJ, manteve a prisão preventiva da desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago, ex-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, e de outros cinco investigados na Operação Faroeste.
A operação desarticulou um esquema de venda de sentenças no tribunal baiano.
O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta quinta-feira à noite o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de estar conduzindo o país ao “caos”, disse que querem matar “a galinha dos ovos de ouro”, numa referência ao caixa do governo federal, e sugeriu que há interesse do deputado em retirá-lo do cargo.
Entre outras coisas, Bolsonaro disse que Maia assumiu o papel do Executivo (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Em uma contundente entrevista dada à Rede CNN, ao fim do dia que trocou o ministro da Saúde, Bolsonaro disse que Maia defende uma proposta de socorro aos Estados na qual a conta toda cai em cima do Poder Executivo, que não tem condições, segundo ele, de aguentar todo custo.
O presidente disse que vai atender aos governadores, mas disse que é preciso que haja contrapartida. “Se não, nós vamos matar a galinha dos ovos de ouro”, afirmou, acrescentando que assim o Brasil “vai quebrar” e ficar em situação igual à da Venezuela.
Ao atacar o comportamento do presidente da Câmara, Bolsonaro disse que tem coragem para falar o que disse e que não se preocupa com a popularidade, destacando que 2022, é outra história.
O presidente afirmou lamentar a posição adotada por Rodrigo Maia, que, na sua opinião, resolveu assumir o papel do Executivo. “Ele tem que me respeitar como chefe do Executivo”, disse.
Para Bolsonaro, Maia não pode agir dessa maneira, jogando os governadores contra ele. Disse que o presidente da Câmara resolveu não conversar com mais ninguém, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem mais contato com ele, que se julga “o dono da pauta”.
“Ele quer atacar o governo federal enfiando a faca no governo federal para resolver os problemas de outro lado”, disse. “Parece que a intenção é me tirar do governo”, insinuou.
“Ele está conduzindo o Brasil para o caos. Qual a intenção? Esculhambar a economia para que eles possam vir em 2022”, questionou Bolsonaro, ao classificar de “escandalosas” as medidas que estão sendo aprovadas.
Pouco depois, o presidente da Câmara também deu uma entrevista para a CNN na qual disse que não responderia aos ataques de Bolsonaro, embora tenha mandado uma série de recados.
Para Maia, Bolsonaro adota a velha tática de trocar de assunto, destacando que o povo está assustado porque “perdeu” Luiz Henrique Mandetta, que tinha amplo apoio popular, como ministro da Saúde, demitido nesta quinta por Bolsonaro.
O presidente da Câmara disse que, da parte dele, não há nenhuma intenção dele e da Câmara de prejudicar ou enfrentar o governo.
“O presidente não vai ter de mim ataques”, disse. “Ele pode jogar pedras e o parlamento vai jogar flores.”
A Câmara aprovou na segunda-feira um projeto de compensação a Estados e municípios, um “seguro-receita”, pela queda na arrecadação decorrente da crise do coronavírus.
A proposta, que segundo Maia tem impacto de 80 bilhões de reais, prevê que a União compense as perdas de arrecadação de Estados e municípios de ICMS e ISS.
Mas, para a equipe econômica, o projeto patrocinado por Maia é encarado como uma bomba fiscal. Isso porque o cálculo do presidente da Câmara levou em conta uma perda de arrecadação de 30% em seis meses, mas técnicos defendem que é impossível calcular neste momento o que vai acontecer, razão pela qual o projeto foi considerado um cheque em branco.
Maia tem rebatido os números do governo, afirma que há distorções nos cálculos e acusa a equipe econômica de computar valores que não estão previstos no projeto.
Já enviada para o Senado, a proposta foi anexada a outra matéria, de autoria do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), movimento que interessa ao governo e deixa com os senadores a tarefa de dar a palavra final sobre o tema.
Maia disse que esse movimento não contribui para o equilíbrio da relação entre as duas Casas e alertou que poderia criar um impasse.
Na entrevista à CNN, o presidente da Câmara destacou que é preciso garantir a receita de Estados e municípios porque eles terão “queda abrupta” de recursos devido à paralisação de boa parte das atividades econômicas como forma e frear a disseminação do coronavírus.
Este seria um dos pontos que incomodam Bolsonaro, que é contra a paralisação e defende que os Estados retomem a atividade com a justificativa de preservar os empregos
Maia rebateu os ataques, afirmando que propostas votadas como o auxílio aos informais e a PEC do orçamento de guerra foram discutidas com responsabilidade. Citou ainda seu esforço para garantir a votação da medida provisória do contrato verde e amarelo, que não está relacionada ao coronavírus, mas era importante na estratégia do governo para criação de empregos. (Reuters)
Artigo publicado na Tribuna da Bahia, edição de 16.04.2020.
Ponto de vista
Como será depois do COVID-19?
Joaci Góes
?Ao velho e bom amigo Deputado Marcelo Nilo!
?O britânico Arnold Joseph Toynbee (1889-1975), um dos maiores historiadores do Século XX, pouco traduzido para o português, notabilizou-se, sobretudo, pelo desenvolvimento de sua teoria segundo a qual a evolução da humanidade é balizada pela superação dos desafios ou dificuldades. Nos doze volumes de seu Magnum opus, A Study of History, que escreveu ao longo dos 27 anos compreendidos entre 1934 e 1961, o também helenista e diplomata Toynbee, egresso de uma família de notáveis intelectuais, analisa o processo de nascimento, crescimento e queda das civilizações, a partir de uma perspectiva global, por entender que o estudo isolado dos estados oferece, apenas, uma visão tópica parcial da realidade humana, induzindo a erro o intérprete. Segundo seu raciocínio, as civilizações não morrem por assassinato, mas por suicídio, a partir de erros internos. A morte das civilizações, coincidindo com invasão estrangeira ou a ocorrência de um desastre natural só é possível em razão do desgaste acumulado e produzido por forças internas. Explica-se a grande influência que exerceu na ampliação das atividades das grandes corporações, mundo afora, a partir de um programa intitulado Visão de Empresa, baseado na Visão, na Cultura e na Motivação, os três pilares comuns às 26 civilizações hegemônicas que analisou. A revista Time disse de sua obra ser “o mais provocador trabalho de teoria da História, escrito na Inglaterra, desde O Capital de Karl Marx”. Em seu livro de memórias, A journey around the world, Toynbee disse que o Brasil era “the melting pot of civilizations”, definição que não tem caráter axiológico, já que melting pot pode resultar em confusão ou redentora complexidade. Em obras que publicou depois da Segunda Grande Guerra, antecipou-se em meio século a Samuel Huntington, ao sustentar que os conflitos no Século XXI não seriam entre capitalismo e comunismo, mas entre regiões nascidas de Abrahão, além de vaticinar que a União Soviética não veria o fim do Século XX. ?
Tive o privilégio de, como aluno secundarista do Central, escutá-lo quando conferenciou na UFBA, ao tempo de Edgard Santos, um dos maiores reitores brasileiros de todos os tempos. Um pouco depois, já estudante universitário, aí também conheci nomes de peso como Aldous Huxley, Jean Paul Sartre, Emílio Myra y Lopez, John Kenneth Galbraith e muita gente mais. Explica-se porque a UFBA já foi considerada uma das melhores universidades brasileiras. ?Toda essa longa digressão introdutória vem a propósito de especular sobre o futuro que nos aguarda, a partir do day after dessa inquietante epidemia.
?A julgar pelas conclusões do sábio inglês, enquanto algumas nações irão ao fundo do poço, outras, em graus variados, compatíveis com a resiliência que foram capazes de construir, farão, em escala nacional, dessa crise ou queda, um passo de dança, na construção do seu harmonioso bailado, como queria o mineiro Fernando Sabino. No geral, penso que a recuperação dar-se-á em tempo mais rápido do que sugere a antecipação da queda brutal do PIB mundial e dos países, com a exceção da China que baixará o seu crescimento a um patamar aspirado pela maioria dos povos.
A rapidez da recuperação resulta da consciência coletiva de que o colapso resultou de uma circunstância alheia à vontade humana, diferentemente do ocorrido com a debacle de 1929, a partir da queda sem precedentes da Bolsa de Nova Iorque, contagiando a economia global. Esta quarentena servirá para tornar as sociedades mais previdentes diante de ocorrências previstas por personalidades das mais distintas vertentes, como Bill Gates e Barack Obama. Sem falar, no vaticínio poético do Maluco Beleza, Raul Seixas. Mais ainda ficará evidenciado o valor do conhecimento na prosperidade das pessoas e dos povos. Os menos educados, categoria que no Brasil abunda, a partir de nosso péssimo sistema educacional, sofrerão mais. Modificações profundas ocorrerão no exercício do trabalho, com crescimento exponencial do home office.
O hábito da leitura, que no Brasil é mendicante, receberá inegável e benfazejo impulso. As pessoas valorizarão mais a simples e valiosa circunstância de estarem em gozo de boa saúde e simplesmente poderem bater perna, livremente, em nosso ambiente externo ensolarado. Esse momento aflitivo passará, inclusive para as pessoas que perderam seus entes queridos, os únicos para quem o mundo se acabou.
?Como única afirmação inquestionável, o universo continuará sua marcha de sempre, ninguém sabe para onde, inteiramente indiferente às alegrias, lágrimas, arrogância e humildade dos Homens.
Joaci Góes é escritor, presidente da Academia de Letras da Bahia-ALB, ex-diretor da TB. Texto publicado originalmente quinta-feira,16, na TB
A antiga estrela argentina deu uma entrevista onde relata ao pormenor os golos que marcou à Inglaterra. Recorda episódios caricatos antes de se sagrar campeão do mundo e o momento em que viu o pai chorar…
Diego Armando Maradona é um personagem inigualável fora do campo, tal como era com as chuteiras calçadas, com uma bola colada ao pé, enfrentando os adversários que lhe surgiam pela frente. A antiga estrela, agora com 59 anos, foi protagonista de uma entrevista ao site da federação argentina (AFA), onde recorda momentos os mágicos que protagonizou no Mundial de 1986, no México.
E nesse torneio o jogo dos quartos-de-final com a Inglaterra é, provavelmente, aquele que melhor define Maradona enquanto futebolista: polêmico e genial. Polêmico porque assim foi o primeiro gol obtido com a mão e que El Pibe descreve pormenorizadamente nesta entrevista.
“Eu estava à procura de espaço para passar porque os ingleses eram autênticas rochas, sobretudo os defesas. O Sansom cortou a bola e queria jogar para o goleiro, mas a bola começa a subir e percebo que nunca chegaria a ela… E dizia para mim, ‘baixa por favor’. É então que, ao saltar, tenho a ideia de meter a mão e a cabeça. Quando caí não percebi onde estava a bola, começo a olhar e vejo-a no fundo das redes e começo a gritar ‘gol, gol!’. E o parvo do Checho [o médio Sergio Batista] diz-me ‘foi com a mão’. Eu respondi-lhe: ‘Cala a boca e abraça-me’. É então que vêm todos abraçar-me, até que chegou o Valdano e disse-me: ‘não me digas que foi com a mão, tenho de…’ e disse-lhe: ‘Valdano, tem calma e joga bola'”, conta Maradona
O agora treinador do Gimnasia y Esgrima revela ainda que quando estava treinando no Dubai encontrou-se com o árbitro desse jogo, o tunisino Ali Bin Nasser, e falaram daquele que é provavelmente o gol mais polêmico da história do futebol. “Ele disse-me algo muito sensato: ‘eu e os meus assistentes validamos o gol, mas estavam 80 mil pessoas no estádio que também não perceberam que o gol tinha sido com a mão'”, revelou.
Quanto ao segundo gol que marcou contra a Inglaterra, Maradona admite que “foi uma obra que todos os jogadores sonham fazer”. “Aquele gol matou o primeiro”, garante o antigo capitão da Argentina, que de imediato começa a descrever toda a jogada em que passou por vários ingleses até marcar um dos gols mais bonitos da história dos Campeonatos do Mundo.
“Peguei na bola a meio campo, toquei-a com o pé esquerdo e Peter Reid vinha ao meu lado, mas quando percebo que diz ‘uhhh’ e não pode mais, digo para mim, ‘é agora’. Arranquei, fintei Butcher, que saiu para a esquerda, levantei a cabeça e vi Burruchaga e Valdano que fizeram sinal para não lhes passar a bola porque estavam marcados. Passei Fenwick, que ainda me agarrou a mão, mas eu era um trator, ninguém me podia parar, nem um comboio, enfrento Shilton e toco a bola com os três dedos para a baliza, precisamente no momento em que Butcher cai sobre o meu tornozelo. Em qualquer outra situação tinha-me lesionado, mas vi a bola entrar e quis lá saber do tornozelo. Corri a festejar!”, conta Maradona com a emoção de quem revive um momento que marcou a sua vida.
A final com a República Federal Alemã (RFA) foi o cumprir de um sonho. Depois de a Argentina ter estado a vencer por 2-0, deixou-se empatar, mas aos 83 minutos, Maradona, que tinha estado muito marcado ao longo da partida, fez um passe mágico para a Argentina vencer o jogo e ser coroada campeã do mundo pela segunda vez. “Vi o Burruchaga fugir e toquei-lhe a bola para ele marcar o terceiro”, lembra.