
Alberto Fernández teve seu banho de esquerda. Como anfitrião em Buenos Aires da segunda reunião do Grupo de Puebla, o presidente eleito da Argentina recebeu a “tocha do progressismo latino-americano”, como lhe disse o ex-presidente colombiano Ernesto Samper. Ele foi acolhido por outros ex-mandatários, incluindo Dilma Rousseff e o paraguaio Fernando Lugo. As estrelas que dominaram o cenário político regional durante o início do século estão de volta. E cheias de otimismo, depois de “anos em que ficamos angustiados porque pensamos que o conservadorismo havia chegado para ficar”, disse Fernández, proa de uma virada ideológica que vislumbram como imparável após a chegada de López Obrador ao poder no México e, agora, do kirchnerismo na Argentina. A abertura, neste sábado, das reuniões do Grupo Puebla também teve um protagonista ausente, o recém-libertado ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O brasileiro enviou do Brasil uma saudação gravada, na qual insistiu em que seu compromisso agora será “construir uma grande América Latina”
O Grupo de Puebla é apresentado como uma comunhão de 32 líderes que “se fazem representar eles mesmos e buscam acordos regionais”, disse o ex-deputado chileno Marco Enríquez Ominani, um de seus principais promotores. “Não somos um grupo de ativismo político, mas também não somos um grupo de reflexão monástica; não estamos em um mosteiro. Queremos agir para desenvolver uma agenda progressista na América Latina, esclareceu Samper. Muito se passou desde o primeiro encontro em Puebla, no México, em julho. O segundo, em Buenos Aires encontra o Chile e o Equador mobilizados e a Bolívia, em um processo eleitoral repudiado pela oposição. O encontro se deu antes, aliás, da guinada boliviana, onde Evo Morales foi obrigado a recuar e a convocar eleições.
A liberdade de Lula na véspera deu ao encontro um impulso inesperado. A sintonia entre Fernández e Lula é inquestionável. O líder peronista o visitou na prisão durante a campanha, mesmo contra aqueles que o alertaram sobre os riscos de atiçar a ira do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. “Passei uma hora com Lula. Os guardas chegaram a dizer que o tempo estava acabando e Lula os desafiava. Ele me disse duas ou três vezes: ‘você tem que ganhar na Argentina’. Cumpri, Lula, venci na Argentina e vamos colocar a Argentina em pé. Estou feliz que Lula esteja livre”, disse Fernández.
O brasileiro retribuiu o cumprimento à distância: “Quando vi que Fernández tinha vencido, senti que eu havia vencido no Brasil (…) sou livre, com muitos desejos de luta. Eu tenho o objetivo na vida de constituir uma integração regional muito forte”. A ex-presidente Dilma Rousseff enfatizou a importância política dessa nova conjunção de líderes. “Lula livre, podendo andar livremente pelo Brasil, pode trazer de volta a democracia e a paz. E a escolha de Alberto muda as condições, porque inverte a onda conservadora na região.”