As mulheres, incluindo as mais pobres aqui no Brasil, começaram a contar suas histórias, as que lhes doíam por dentro sem que pudessem falar

Este século XXI será recordado pela maior revolução feminista da história. Nunca esteve tão viva a temática da mulher, sua luta contra o machismo, seu desejo de recuperar o lugar que sempre deveria ter ocupado e foi impedida pelos preconceitos masculinos. Há quem se atreva a profetizar que este será o século em que a mulher finalmente alcançará a dignidade que lhe cabe e que sempre lhe foi negada.
Esta revolução feminina que todo o planeta abraça, até os rincões mais hostis à mulher, ainda é um paradoxo. É assim neste Brasil-continente, onde, além disso, a maioria das mulheres não é branca. Se por um lado se trata do quinto país do mundo com maior número de feminicídios, também é verdade que nele aparecem hoje, mais visíveis do que nunca, e mais que em muitos outros lugares, a luta da mulher e seus movimentos de liberação. Há no Brasil coletivos femininos em escolas públicas da periferia e nas escolas para ricos nos bairros centrais. Na Grande São Paulo, a maior cidade da América Latina, começaram a ser vistos cartazes que incitam a denunciar a violência contra a mulher. E a mulher começa a estar presente em todas as instituições do Estado e em todos os meios de comunicação.
Perguntei a uma jornalista brasileira que qualidade ela considera que define a mulher hoje, e ela me respondeu: “Nós nos atrevemos a denunciar mais, sem vergonha de sermos julgadas”. A jornalista e escritora espanhola Nuria Varela, autora de Feminismo Para Principiantes, em uma entrevista a Pilar Álvarez neste jornal, destaca que nunca existiu no mundo um “despertar feminino” como hoje. E isso porque a mulher, em todo o planeta, “começou a contar a história que nunca havia sido contada”, que é a história das mulheres com suas lutas pela emancipação do jugo masculino.
Sim, as mulheres, incluindo as mais pobres e com menos acesso à cultura, por exemplo aqui no Brasil, começaram a contar suas histórias, as que lhes doíam por dentro sem que pudessem falar, as que dão medo nos homens, porque sabemos que são verdadeiras. São histórias de ruptura, de muita dor, mas também de orgulho de estar descendo da indiferença dos subúrbios para o centro das cidades, para gritar que elas existem e devem ser escutadas.
É verdade que ainda, apesar dos esforços dos movimentos de liberação feminina, o poder masculino continua governando o mundo e decidindo o destino cotidiano das mulheres. Mas agora com menos força e convicção, porque percebe, goste ou não o homem, que estamos imersos numa verdadeira revolução. Como salienta Nuria, não se pode esquecer que a mulher vem de uma sociedade onde “carecia de alma, inteligência e consciência”.
E hoje é justamente uma mulher, a jovem sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que protagoniza em todo mundo a luta contra a destruição do meio ambiente. Foi ela quem teve a coragem de enfrentar os grandes patriarcas masculinos dos países representados na Cúpula Climática da ONU. É o símbolo da mudança de cunho feminino que o mundo está experimentando.
O que talvez ainda falte a este grande movimento feminino de liberação é começar a fazer também a revolução da linguagem. Sempre, desde a aparição do Homo sapiens, foi a linguagem que moldou a história. Foram as palavras que criaram as ideias e a cultura, a política e a religião. E foi a linguagem que desde o início levou a marca masculina. Dizemos que a história começa com o Homo sapiens, não com a Mulher sapiens também.
Sem palavras não podemos contar nossas ideias e sentimentos, nem nossos sonhos. E hoje, em um mundo de total transformação em todas as esferas, continua sendo a linguagem o que expressa essas mudanças planetárias. O que ocorre é que foi, ao mesmo tempo, a realidade da vida que evoluiu antes das palavras para expressá-la. E as palavras foram também ficando velhas para descrever os movimentos subterrâneos da humanidade em movimento.
Às vezes precisamos de décadas para encontrar a palavra que poderia expressar a mudança já realizada. Assim, ultimamente, nasceram vocábulos como pós-verdade, ou modernidade líquida, para tentar expressar o novo em nossas relações e em nosso modo diverso de contar as coisas.
Será também esta última revolução da linguagem a que poderá servir para culminar dos novos movimentos de liberação do feminino para o político, duas realidades que a linguagem já não consegue mais expressar. Termos como masculino e feminino, esquerda e direita, paz e violência se tornaram antiquados porque a realidade vivida a cada dia neste novo século já é outra, e não sabemos como defini-la.
A revolução da linguagem, seja no tema da liberação da mulher como para o surgimento de uma forma nova de fazer política, será a última conquista da Humanidade, se não quiser ficar restrita à escravidão de palavras que já não são capazes de expressar o novo que está germinando e começou a nascer.
E isso no bom e no ruim. Necessitamos de palavras novas para expressar, seja os movimentos de liberação, como o da mulher, como os de novos fantasmas autoritários, todos eles aliás antifeministas. Não nos bastam as palavras do fascismo ou nazismo, porque além de que a história nunca se repete, apresentam-se com rostos diferentes que assustam mais ainda, porque nos sentimos incapazes de nomear e portanto de compreender.
Quem sabe se não serão as mulheres, mais atrevidas que os homens e com menos medo, apesar de terem sido sempre vítimas, que nos oferecerão um novo renascimento cultural e linguístico, capaz de expressar a força que levam dentro de si.
“Por causa de você menina”, Jorge Ben: Depois do sábado para honrar a memória dos mortos mais queridos, De Ben com a Vida para festejar o domingo !!! Cantemos todos, que essa todo mundo aprendeu a cantar.
BOM DIA!!!
(Gilson Nogueira)
DO JORNAL ZERO HORA (RS)
“A minha convicção é de que ele agiu no processo para botar meu nome lá dentro. Espero agora que não queiram jogar para cima do colo do porteiro. Pode até ser que ele seja responsável, mas não podemos deixar de analisar a participação do governador. Como é que pode um delegado da Polícia Civil ter acesso às gravações da secretária eletrônica?”, questionou.
“Eu não tenho dúvida de que o governador Witzel só se elegeu graças ao meu filho, Flávio Bolsonaro, que colou nele o tempo todo, chegando, um mês depois, virou nosso inimigo. Começou a usar a máquina do estado para perseguir o Flávio, o Carlos agora também, o Hélio Negão, tudo quanto é amigo meu estão sendo investigados agora lá no Rio de Janeiro.
Junto a um delicioso novo perfil oficial no Instagram, a abelha rainha Maria Bethânia lançou uma nova música, ‘A Flor e o Espinho’, regravação do clássico de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha.
Um espetáculo, como era de se esperar.
A faixa é o início do projeto ‘Mangueira – A Menina dos Meus Olhos’, que contará com várias gravações da baiana (inclusive de inéditas) em homenagem à Verde Rosa.
Ouça:
O líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi morto nesta sexta-feira com um tiro no pescoço durante um confronto com madeireiros na Terra Indígena Arariboia, na região de Bom Jesus das Selvas, no Maranhão.
Paulo Guajajara, também conhecido como Kwahu Tenetehar, é um dos Guardiões da Floresta, que patrulham o território indígena. A região tem sido ocupada por madeireiros, daí os embates. No confronto que vitimou Paulo, outro colega dele, Tainaky Tenetehar, levou um tiro nas costas e no braço, mas conseguiu escapar.(Reuters)
Que as palavras podem envenenar as mentes e, de acordo com os relatos, acabar matando é uma evidência histórica. O caso mais recente ocorreu na França. Um homem convencido de que o incêndio de Notre Dame foi obra de muçulmanos tentou na segunda-feira incendiar a mesquita de Bayona, no País Basco francês, e atirou em dois fiéis.
O agressor – Claude Sinké, um ex-militar de 84 anos com problemas psiquiátricos e ex-candidato nas eleições locais pelo partido de extrema-direita Frente Nacional – para justificar o atentado se referiu a uma teoria da conspiração que circulou nas horas e dias posteriores ao incêndio acidental na catedral de Paris. Os feridos estão fora de perigo.
O ataque de Bayona é um bom exemplo de como uma teoria da conspiração, sem fundamento real, mas alimentada nas redes sociais e nos veículos de comunicação por políticos de nome, pode acabar desencadeando uma tragédia. Os investigadores logo descartaram a tese de que o incêndio de Notre Dame, em 15 de abril, fosse provocado, mas desde o primeiro minuto a ideia de que poderia se tratar de um atentado de fundamentalistas islâmicos correu por círculos da extrema-direita.
“Algumas fontes falam de duas origens do fogo em Notre Dame (…). Se essa informação for confirmada, a tese do acidente, colocada desde o começo quase como uma certeza por numerosos veículos de imprensa mesmo sem ninguém saber nada, ficaria sem fundamento”, escreveu nas redes sociais, na noite do incêndio, Jean Messiha, dirigente do Reagrupamento Nacional, herdeiro da Frente Nacional. Três dias depois, o dirigente da direita soberanista Nicolas Dupont-Aignan pediu uma investigação independente. “O poder esconde algo”, afirmou.
Nenhum desses políticos mencionou em suas teorias a hipótese do fundamentalismo islâmico, e o ato de Sinké não pode ser explicado somente pela teoria da conspiração sobre Notre Dame. Mas não seria a primeira vez que uma pessoa decide fazer justiça com as próprias mãos baseada em uma falsidade.
Um caso recente é o do chamado Pizza-gate em 2016: o rumor infundado segundo o qual uma pizzaria de Washington frequentada por famílias do bairro era na verdade a fachada de uma rede de tráfico de menores em que Hillary Clinton estava envolvida, rival de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos daquele ano. Um homem que acreditava piamente no boato foi à pizzaria armado com um rifle e chegou a disparar várias vezes, sem causar vítimas.
O episódio foi um aviso sobre o que acontece quando alguém decide levar à prática as teorias da conspiração. Não é novo. “Historicamente, as teorias da conspiração se vinculam ao comportamento violento no mínimo desde a Idade Média”, escrevem os psicólogos Pia Lamberty e David Leiser em um estudo sobre as ligações entre essas teorias e a violência.
Nem toda teoria da conspiração necessariamente leva à violência; a maioria, de fato, é inofensiva. “O conspiracionismo está muito estendido entre a população. Mais da metade da população acredita em alguma teoria da conspiração. Seria estranho que todas essas pessoas fossem violentas”, diz Sebastian Dieguez, pesquisador em neurociências cognitivas na Universidade de Friburgo (Suíça) e autor do livro Total Bullshit! Au coeur de la post-vérité (Bobagem completa! No coração da pós-verdade). Mas acrescenta que, “em alguns casos”, se observa “uma certa disposição à justificação da violência” porque “já não se acredita nos métodos e virtudes democráticas: se acredita que o jogo está arranjado, que nos escondem coisas, que nos dominam”. “E então”, conclui, “a violência se justifica”.
Casos como o do Pizza-gate e o de Bayona – pessoas isoladas, talvez frágeis e influenciáveis – “suscitam uma questão interessante”, diz Dieguez. “Muitas pessoas suspeitavam que o incêndio de Notre Dame não era um acidente, era somente uma postura subversiva, que servia para se apresentar como alguém que não se deixa usar pelas autoridades. Mas aí está. Esses não fazem nada. A prova de que é mais uma postura do que uma crença é que poucas pessoas tentam agir e ir além”.
A lista de conspiracionistas violentos pode incluir o homem que em 2011 matou a tiros seis pessoas e feriu uma congressista em Tucson (Arizona), e que acreditava que os atentados de 11 de setembro de 2001 eram um complô governamental. E os terroristas que, em março e agosto de 2019 respectivamente, realizaram as matanças de Christchurch (Nova Zelândia) e El Paso (Texas). Os dois se inspiraram na teoria racista da grande substituição, segundo a qual a população autóctone branca está sendo substituída por população estrangeira e de outra religião.
“Um fenômeno mais importante são os múltiplos grupos terroristas com teorias da conspiração incluídas em suas crenças fundamentais”, diz por e-mail o jornalista Jonathan Kay, que investigou o conspiracionismo norte-americano no livro Among the Truthers (Entre os verdadeiros). E menciona o exemplo da carta fundacional do Hamas, que cita como fonte de autoridade os Protocolos dos Sábios de Sião, texto conspiracionista falso no qual boa parte do antissemitismo do século XX se apoiou.
“Se olharmos os grupos radicalizados, é onde o conspiracionismo abunda”, afirma Dieguez. “É como um motor que permite unir o grupo, justificar sua existência e suas ações, seu método violento. A teoria da conspiração proporciona ao mesmo tempo uma justificativa e uma motivação para agir de maneira não democrática”.