Janio Ferreira Soares
Janio Ferreira Soares, cronista, é secretário de Cultura de Paulo Afonso, na ribeira baiana do Rio São Francisco
Como Arthur / Joker, Joaquin Phoenix é surpreendente. Phoenix habita Arthur: tendo perdido peso para o papel, ele aparece magro, frágil, com fome. Sombras esculpem seus ossos expostos. Sua fisicalidade é precisa – a maneira como ele se move, embaralha, corre, senta, fuma, encolhe. A intensidade habitual dele está em exibição total e é cativante, até avassaladora em momentos, em muitos aspectos, não é o Coringa, é Arthur.
Arthur é uma das vítimas da vida, um dos “malucos” da vida. Ele é espancado, zombado, abusado. Ele está familiarizado com o gosto de sangue na boca. Mas ele não é apenas um solitário ou incompreendido; ele não pode se envolver com o mundo. A existência cotidiana é simplesmente impossível, pois as regras e códigos que estruturam uma sociedade – mesmo uma tão quebrada e destruída quanto Gotham – permanecem desconhecidos para ele. Em vez disso, ele fica fora do mundo, em parte devido a uma condição que causa risadas incontroláveis ??(geralmente nas piores situações), com os olhos cheios de dor e tristeza quando outro ataque de riso o vence e o mundo se retira ainda mais.
A performance de Joaquim Phoenix é uma das mais incríveis que eu já vi na tela em uma década e é (sem desrespeito ao falecido ator) muito superior à versão de Heath Ledger. Ledger ganhou um merecido Oscar por interpretar o Coringa há uma década; Phoenix merece o mesmo, com o próprio Coringa, acho que também é um forte candidato a Melhor Filme e Melhor Diretor.
Pode parecer que o filme levanta a bandeira de guerreiro da justiça anti-social. Não é nada do tipo. Faz críticas sérias tanto à direita quanto à esquerda e à sociedade em geral.
O filme se enfurece com a condição humana e a escuridão que pode quebrar uma pessoa e transformá-la em um monstro. Especificamente, aponta os ricos e poderosos, que afirmam querer ajudar, mas tornam impossível que os oprimidos se recuperem.
Valei-nos, Irmã Dulce!!!!