
Justiça transforma prisão de hackers em preventiva
Investigação
O inquérito para investigar o caso foi aberto após a divulgação de conversas atribuídas ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e a procuradores da Lava Jato no período em que Moro era juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Segundo o site The Intercept, as conversas mostram que Moro orientou a atuação dos procuradores. O ministro e a força-tarefa da Lava Jato negam.
Em depoimento prestado à PF na semana passada, Walter Delgatti Neto disse que chegou a arquivos do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, e os repassou ao jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept.
Neto disse também que não recebeu dinheiro pelo material nem editou o conteúdo das mensagens.
‘Incongruências’
Ao transformar a prisão dos investigados em preventiva, o juiz afirmou que, apesar de Walter Delgatti ter dito que invadiu os celulares de autoridades, ainda há “algumas incongruências que precisam ser esclarecidas”.
O magistrado diz que Delgatti afirma ter agido sozinho, mas uma perícia nos computadores e em discos rígidos apreendidos com ele foram encontradas 5.812 ligações suspeitas para 1.162 números distintos, o que, segundo o juiz, “revela a possível atuação de outras pessoas”.
Ele diz ainda que, no computador de Walter Delgatti, foram encontrados arquivos que indicam a realização sistemática de fraudes bancárias pelo investigado.
Além disso, segundo a decisão, foram identificadas conversas de interlocutores repassando informações de cartões de possíveis vítimas e um arquivo de vídeo com imagens do extrato bancário de uma conta no Banco do Brasil que foi alvo de fraude no dia 5 de julho, em transações no valor de R$ 360 mil.
Gustavo e Suelen
Em relação ao casal Gustavo e Suelen, o juiz afirma que os investigadores encontraram, no imóvel ocupado pelo casal:
- cartões bancários e boletos em nome de outras pessoas;
- boletos bancários fraudulentos;
- diversas máquinas de leitura de cartão de crédito.
“Indicando a possível prática de fraudes bancárias na modalidade extravio de cartões de crédito”, diz trecho da decisão.
Os cartões de crédito encontrados no imóvel pertencem a pessoas que moram no mesmo bairro da cidade de São Paulo. Isso, segundo a investigação, indica que possivelmente foram “desviados de uma mesma agência dos Correios”.
O juiz afirma ainda que não foi comprovada, até o momento, a origem lícita da quantia de R$ 99 mil em dinheiro apreendida com o casal.
Mensagens encontrados nos celulares apreendidos na casa de Suelen e de Gustavo evidenciam que ela tinha conhecimento e “auxiliava” nas fraudes bancárias praticadas por Gustavo.
Outras mensagens, trocadas entre Gustavo e Walter Delgatti, mostram que Walter Delgatti descreveu métodos de fraudes bancárias que “pratica usando coleta de códigos SMS”.
Danilo Marques
Sobre Danilo Cristiano Marques, o juiz Ricardo Leite afirma que, através da análise de mensagens no celular do suspeito, há indícios de participação direta de Danilo em fraudes bancárias e estelionatos praticados pelo grupo. “Este [Danilo] não atuou apenas como ‘testa de ferro’ de Walter”, diz o magistrado.
O juiz afirma ser “plausível” que Danilo tenha adquirido 60 chips – que foram encontrados na casa dele pelos investigadores – para praticar fraudes.
The Intercept
O juiz afirma ser necessário manter os quatro suspeitos presos preventivamente tendo em vista a “periculosidade” da organização criminosa, que, “destemidamente acessou a conta de autoridades” e repassou “informações judiciais sigilosas” ao site The Intercept.
“Há diversas lacunas que não foram esclarecidas, como a origem do montante de R$ 99 mil na residência de Gustavo e Suelen; a motivação de Walter Delgatti Neto ao repassar as informações sigilosas ao sítio eletrônico Intercept, e se recebeu alguma quantia em pagamento; em que consistiu a participação de Danilo já que surgem fortes indícios de que tinha total conhecimento da prática delitiva, desconstituindo as suas declarações perante a polícia de que agiu em razão da amizade que tinha com Walter”, diz o juiz no despacho.
Audiência de custódia
Na última terça-feira (30), os quatro suspeitos passaram por audiência de custódia na sede da Justiça Federal de Brasília. Em depoimento, Gustavo e Suelen disseram ter sido alvos de maus-tratos ao serem presos.
A procuradora da República presente à audiência pediu que ao juiz Vallisney de Oliveira, também da 10ª Vara, para conceder cópia dos depoimentos para o Ministério Público apurar se houve abuso de autoridade. Danilo Marques e Walter Delgatti Neto negaram maus-tratos.