Depois do discurso curto e badalado do Fórum Econômico na Suíça.
…Presidente vai a área de desastre em Minas antes de se internar em hospital de SP.
ARTIGO DA SEMANA
Davos em seis minutos: poucas palavras, muitas ofertas e as querelas do Brasil
Vitor Hugo Soares
Nos seis minutos de seu discurso, na abertura do Fórum Econômico Mundial de Davos, 2019, que reúne magnatas e grupos mais ricos e poderosos do planeta, o capitão presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, decidiu – depois de costuras e ajustes, ao que se informa nos bastidores – seguir o pensamento do escritor Mario de Andrade, autor do referencial romance Macunaíma: “pior do que uma baioneta calada é uma baioneta falante”.
Nervoso e reticente sim, mas bateu com a cara no muro quem antecipava em relação ao novo mandatário, fala mal humorada, de cara amarrada e cacoetes mofados da direita militarista dos Anos 60/70. Ou os que esperavam o papo retórico, à moda e jeito precário de pensar e dizer as coisas dos “estocadores de vento”, de triste memória da esquerda petista e assemelhados, durante quase 15 anos de mando.
Bolsonaro, na Suíça desses dias estranhos no mundo, – Trump e Macron, presidentes dos Estados Unidos e da França, respectivamente, e a primeira-ministra do Reino Unido, Teresa May, nem puderam viajar, tais e tão grandes os pepinos que descascam em suas zonas de mando – gélido território de seu batismo de fogo internacional como chefe de Estado da mais importante nação da América do Sul, optou por inaugurar nova e surpreendente rota. E não se deu mal, basta verificar, com isenção, a repercussão na mídia nacional e internacional.
Há até um registro emblemático de bastidores, captado por ouvidos mais atentos de jornalistas envolvidos na cobertura do fórum. No mesmo dia do discurso, durante jantar estrelado em Davos, o presidente brasileiro observou que na mesa estavam sentados donos de 23 trilhões de dólares, e pensou alto, arrancando risos dos participantes: “o Brasil precisa apenas de 10% disso daí”.
Desce o pano rápido sobre o palco, diria Millôr, se vivo fosse. Há quem tenha aplaudido a objetividade e concisão. Há, também, os que condenam a economia de palavras. Entre as duas partes, o principal: o fato político e econômico decorrente do que disse o novo ocupante do Palácio do Planalto. Ainda é prematuro apontar resultados. Mas algo já se pode afirmar: não são desprezíveis ou inúteis – como alguns críticos apressados sugerem – o esforço e a aposta pesada do novo governo, no Fórum dos ricos de Davos.
Em exatos seis minutos e 26 segundos – sem contar o também curto tempo para responder perguntas dos organizadores – destacou a determinação de abrir a economia, atrair investidores, fazer reformas essenciais e inadiáveis, reduzir o peso do Estado nas costas de quem produz, combater com inteligência e leis duras, a violência e o crime organizado, voltar a apostar no turismo, preservar o meio ambiente, e combater a corrupção que corrói o País. Deixou os detalhes a cargo dos superministros Paulo Guedes, da Economia, e Sérgio Moro, da Justiça e Segurança. Viu ainda, na Suíça, os venezuelanos nas rua s apertando a corda no pescoço de Maduro, e assinou o apoio do Brasil ao governo interino de Guaidó.
Bolsonaro está de volta à base. Ainda com seqüelas da facada que recebeu durante um comício de campanha, em Juiz de Fora. Neste sábado, ele se recolhe a um hospital, em São Paulo, para exames preliminares. Na segunda-feira deve ser operado para retirar a bolsa de colostomia que carrega desde o atentado. Permanecerá no hospital, pelo menos, por uma semana. O resto são querelas do Brasil.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br