Otavio Frias Filho em evento de comemoracao dos 95 anos da Folha de São Paulo –
Morreu nesta terça-feira, aos 61 anos, o jornalista, escritor e dramaturgo Otavio Frias Filho, diretor de Redação da “Folha de S.Paulo” nos últimos 34 anos. Otavio foi responsável por implementar um projeto de modernização inovador à época, engajou a Folha na campanha das Diretas Já e levou o jornal a se tornar um dos mais importantes do país a partir da década de 1980. Ele lutava desde o fim do ano passado contra um câncer no pâncreas.
Mais velho dos três filhos de Octávio Frias de Oliveira e Dagmar de Arruda Camargo, Otavio começou a trabalhar no jornal da família em 1975, escrevendo editoriais e sob a orientação do então editor-chefe, Cláudio Abramo. Em 1978, tornou-se secretário do recém-criado conselho editorial da “Folha”, na época dirigida por Boris Casoy.
Já formado em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, assumiu a direção de Redação em 1984, aos 26 anos. Foi responsável pela introdução da linha editorial “crítica, apartidária e pluralista”, marca do jornal que ficou conhecida como o “Projeto Folha”. Nesse mesmo ano, criou o “Manual da Redação”, um compilado de medidas de normatização e de procedimentos, ainda em vigor.
Gostava de reproduzir frase que atribuía ao jornalista Luiz Alberto Bahia: “O grande jornal burguês tem que ser conservador em economia, liberal em política e revolucionário em cultura”.
Perfeccionista, sempre teve uma visão crítica do jornalismo. “Acho que nós, que trabalhamos com jornalismo, estamos sempre vivendo uma frustração diária, porque os jornais são feitos sob a égide da pressa. Há uma urgência muito grande, há uma premência muito grande, então, a quantidade de falhas, de incompletudes, de deficiências, é sempre muito grande”, disse, em entrevista ao programa Roda Viva, em 1996.
Preferia a mensuração objetiva ao impressionismo. Estimulou a criação do Datafolha e o uso das pesquisas como ferramentas jornalísticas, abraçou a quantificação e a avaliação da produção da Redação por meio de categorias como unidades informativas e centimetragem de produção. Por muitas vezes, começava a leitura do jornal pela seção Erramos, uma das marcas da “Folha”.
Sob o comando de Otavio, a “Folha de S.Paulo” chegou a publicar mais de 1 milhão de exemplares nas edições dominicais. Mesmo antes de assumir a Redação, foi um dos defensores da tese, vencedora, de que o jornal deveria se engajar com afinco na campanha das “Diretas Já”, pelo fim do regime militar.
“O êxito da tese das eleições diretas será tão menos improvável quanto mais firme e abertamente ela seja sustentada pelos setores da opinião pública que lhe são favoráveis”, afirmava editorial da “Folha”, em março de 1983. “Na atual situação de graves dificuldades econômicas e demandas sociais insatisfeitas, tal forma de escolha [eleições diretas] se apresenta como a mais apta a estabelecer vínculos sólidos e de confiança entre governo e sociedade”, sustentava o jornal.
Naquele período, a “Folha” já havia se afastado do apoio que, por dez anos, deu à ditadura militar. Nos 50 anos do golpe, o jornal abordou o tema em editorial: “Às vezes se cobra desta Folha ter apoiado a ditadura durante a primeira metade de sua vigência, tornando-se um dos veículos mais críticos na metade seguinte. Não há dúvida de que, aos olhos de hoje, aquele apoio foi um erro”.
Livros e teatro
Além da atividade como jornalista, Otavio escreveu seis peças de teatro e livros como “Queda Livre”, ensaios sobre suas experiências de vida, “De Ponta Cabeça”, compilação de colunas publicadas no jornal, e “Seleção Natural — Ensaios de Cultura e Política”, com textos sobre teatro, cinema e jornalismo.
No livro “Queda Livre”, quando descreveu sua atuação como ator, dizia que sua turma de verdade era a do teatro, apesar de ter passado 43 anos frequentando quase diariamente uma Redação. Atuou por uma noite na peça “Boca de Ouro”, dirigida por José Celso Martinez Corrêa.
Ingressou no curso de pós-graduação em Ciências Sociais na USP, como orientando da professora Ruth Cardoso, em 1980. Completou os créditos do mestrado na área de Antropologia, em 1983, mas não apresentou dissertação correspondente.
Otavio deixa a mulher, Fernanda Diamant, e duas filhas, Miranda, de oito anos, e Emília, de dois.
Com 39% do eleitorado nacional, ou 26% do total, a Região Nordeste pode ser decisiva na eleição deste ano, como o foi na de 2014. Isso será possível se um candidato conseguir receber uma fração altamente majoritária dos votos nordestinos, compensando perdas no resto do pais, onde haverá grande dispersão de votos. Como Lula e Dilma obtiveram tal vantagem nas eleições que disputaram, ela graças à transferência de votos dele, um dos maiores desafios de Fernando Haddad, como substituto do ex-presidente, será a conquista deste espólio lulista. Os concorrentes também estão disputando este butim, mas obviamente o PT leva vantagem. Haddad começa na terça-feira um périplo pela região, depois de ter estado no Piauí, na sexta-feira, fazendo campanha ao lado do governador petista Wellington Dias. Esta semana ele vai se concentrar em estados onde o PT tem candidato próprio a governador em boa posição, ou participa da chapa de aliado competitivo. Por isso foram escolhidos Bahia, Sergipe, Paraíba. Rio Grande do Norte e Maranhão. A escolha refletiu as alianças com o PC do B e o PSB. Em 2014, Dilma não teria sido reeleita sem a vitória folgada que obteve no Nordeste. Com sua vantagem em outros estados, Aécio teria ganhado. Nos nove estados da região, Dilma recebeu um total de 20,1 milhões de votos, contra 6,5 milhões dados ao tucano. A diferença de 12,2 milhões de votos a favor da petista garantiu-lhe a vitória, que ela deve também ao Norte, onde superou Aécio por mais de um milhão de votos: recebeu 4,3 milhões, contra 3,3 milhões dados ao senador. Não por acaso Haddad começa seu roteiro pela Bahia, o que explica também a preferência que muitos petistas tinham pelo ex-governador Jacques Wagner como plano B de Lula. Ali, em 2014, Dilma obteve a maior vantagem sobre Aécio, entre todos os estados: recebeu cinco milhões de votos, contra 2,1 milhões dados a ele. Vantagem de mais de três milhões de votos. O segundo maior saldo positivo de Dilma foi no Ceará, mas este ano, com a candidatura de Ciro, dificilmente o PT será hegemônico ali. O governador Camilo Santana é petista mas está com Ciro. Já o candidato tucano Geraldo Alckmin, segundo as pesquisas de hoje, dificilmente repetirá a performance de Aécio nos estados onde o PSDB ganhou de lavada em 2014. Em São Paulo, o tucano bateu Dilma com uma vantagem de quase 7 milhões de votos: foram 15,2 milhões de votos contra 8,4 milhões dados a ela. Isso foi conseguido com a ajuda de Alckmin, que disputava a reeleição. Mas este ano ele perdeu boa parte de seu eleitorado para Jair Bolsonaro, e até agora não conseguir recuperar o terreno perdido. Outro estado em que Aécio bateu o PT por larga vantagem foi o Paraná: foram 3,7 milhões de votos para ele, contra 2,4 milhões para Dilma. Mas, com a candidatura de Álvaro Dias, o PSDB perdeu também este território. A batalha eleitoral em Minas, este ano, será tão renhida quanto em 2014: Dilma recebeu 5,9 milhões de votos, Aécio 5,4 milhões. Este ano o governador petista Fernando Pimentel disputa a reeleição tendo Dilma em sua chapa como candidata ao Senado. Ela é favorita mas ele está atrás do tucano Antônio Anastasia. Será um confronto formidável. Ganho simbólico Embora a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU não deva impedir o indeferimento da candidatura do ex-presidente Lula, o PT já obteve com isso enorme ganho político e simbólico, admitem até os adversários. Interna e externamente, ganha força a narrativa da perseguição judicial para evitar que ele se eleja. O PT tocará o bumbo sobre o assunto na propaganda eleitoral. Afora o largo arranhão na imagem do Brasil, o descumprimento lançará desconfiança sobre o pleito. Qualquer denúncia de fraude pode trazer observadores internacionais ao Brasil. E assim, o país segue aspirando ao apelido de bananão. A conferir O debate da RedeTV, como o da Band, não produziu cenas capazes de alterar o curso das pesquisas. Causou, no máximo, um arranhãozinho em Bolsonaro. Veremos.
Ibope apontou, em sua primeira pesquisa após o início oficial da campanha, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e virtualmente impedido de concorrer à Presidência da República, segue liderando isoladamente as intenções de voto com 37%, quase o mesmo percentual da pesquisa CNT/MDA também divulgada nesta segunda. Ainda que não diretamente comparável, a marca de Lula é um patamar maior do que o exibido em levantamentos recentes de outros institutos e sinaliza que, detido em Curitiba, o ex-presidente tem conseguido manter o apoio ao seu nome, desafiando as cortes que devem impedi-lo definitivamente de disputar o Planalto nas próximas semanas. A pesquisa segue mostrando Jair Bolsonaro, o candidato de extrema direita do PSL, em segundo lugar, com 18%. É o capitão reformado do Exército que lidera, com 20%, nas simulações sem o petista, seguido de Marina Silva (REDE), que salta de 6% (com Lula) para 12% (sem ele).
O levantamento mostra um cenário embolado a partir do segundo lugar, nas simulações com o ex-presidente petista. Aparece com 5% Geraldo Alckmin (PSDB), uma cifra que pode ser vista como decepcionante, se considerado que o tucano é dono da maior coalizão de partidos apoiadores. O desempenho do ex-governador de São Paulo volta a reforçar a visão de que Alckmin terá de contar com o poder da TV, na qual terá o maior tempo de exposição entre os candidatos, para tentar crescer a partir de 31 de agosto. Já Ciro Gomes (PDT) aparece com os mesmos 5% de Alckmin nas simulações com Lula, e vai a 9% sem ele, mais próximo de Marina Silva.
Incertezas sobre transferência de voto
Se Lula tem uma vitória ao conseguir sinalizar alta mesmo preso, isso não garante, por ora, qualquer sucesso na estratégia global do PT. A pergunta segue a mesma: quando o ex-presidente for impedido legalmente de concorrer, haverá tempo hábil para ele transferir votos para seu vice oficial e plano B, Fernando Haddad? Quando o nome do ex-prefeito de São Paulo foi apresentado ao eleitor nesta simulação do Ibope, o petista marcou apenas 4% e há indicações de que seus eleitores se distribuem entre outros candidatos, entre eles marcadamente a candidata da REDE.
Os investidores do mercado financeiro, ávidos por um candidato pró-reformas liberais que decole nas pesquisas, demonstraram nervosismo nesta segunda-feira. O dólar encostou em 3,96, a maior marca em dois anos, e um estopim foi a pesquisa CNT/MDA que já mostrava Lula, no final da manhã, com 37,3%.
A pesquisa do Ibope, de âmbito nacional, ouviu 2002 eleitores entre 17 a 19 de agosto. Os números foram divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela TV Globo, parceiros da pesquisa. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Geraldo Alckmin relativizou a pesquisa da CNT divulgada hoje, que lhe dá 4,9% das intenções de voto, com uma frase curiosa, segundo o relato da Folha:
“Pesquisa é como perfume. Não é para tomar, é para observar.”
O tucano também minimizou a traição de aliados como Ciro Nogueira, presidente do PP, que declarou voto em Lula.
E disse o óbvio sobre o “comitê da ONU”, que só os petistas não admitem: a recomendação de que Lula seja solto e concorra “não tem nenhuma efetividade”.
Muita água ainda correrá sob a ponte. Mas chama atenção, nas pesquisas que se sucedem, a resiliência do quadro: os presidenciáveis mais competitivos estão agarrados ao chão, sem se deslocarem.
Parte da explicação pode estar na insistência dos institutos de pesquisa de apresentarem Lula como candidato, fato que reitera a narrativa do “golpe”, mas também é um truque eleitoral que confunde a população. Nas simulações feitas com o nome de Lula, ele é imbatível. Quando substituído por Haddad, o desempenho petista despenca e Marina ganha fôlego.
lsonaro persiste na dianteira, indicando que sua audiência é fiel. A segunda posição de Marina mostra que biografia épica, recall e insistência em uma “nova política” compensam a falta de estrutura de campanha e a recusa a coligações.
Ciro e Alckmin caminham abraçados, o eleitorado parece indiferente à qualidade técnica e à experiência administrativa que ambos podem exibir. Ciro sofre as consequências do isolamento a que foi submetido pelo PT. Já Alckmin, em que pese a grande coligação, continua estacionado, vitimado pela má vontade do eleitor com a política. Para complicar, sua campanha enfrenta problemas complicados no plano regional, especialmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde poderá até ser “cristianizado”. Mesmo em São Paulo terá de amassar muito barro para conseguir decolar com ímpeto. Seu maior trunfo está no horário gratuito.
Nos cenários de segundo turno avaliados pela pesquisa da CNT, sem o nome de Lula, Bolsonaro está um passo à frente dos adversários, seja ele Alckmin, Ciro ou Marina. O que ajuda a explicar a agitação que tomou conta do mercado e dos analistas políticos. Os índices de rejeição são altos, e afetam particularmente os dois mais bem colocados: Lula (30%) e Bolsonaro (37%). Será uma surpresa e um complicador a mais se um deles for eleito.
A pesquisa deixa claro que das 13 candidaturas poucas têm músculos para ir ao segundo turno. A briga entre elas irá recrudescer nas próximas semanas, com efeitos que ainda não dá para prever.
* MARCO AURÉLIO NOGUEIRA É PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA E COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS E ANÁLISES INTERNACIONAIS DA UNESP