ARTIGO DA SEMANA
“Segundo Sol”, a novela, Ayres Brito, o outsider: novos cometas?
Vitor Hugo Soares
De repente um espanto na tela da TV, na segunda-feira, 14. Bonner retorna à mesa de comando do Jornal Nacional – que recebe Tite em exclusiva. Depois, a brisa sopra no meio de fatos e boatos destes dias conturbados e confusos de maio: na política, no governo e, agora, também na economia, que começa a derrapar perigosamente,igual ao soturno mandatário Michel Temer, que balança com a corda no pescoço.
Explosão de imagens e sons de Salvador e litoral do sul da Bahia, na abertura de “Segundo Sol”, o novo folhetim das nove da Globo. Ao fundo, a batida sonora da banda Baiana System, e a voz do mineiro Nando Reis cantando o tema da trilha. Música consagrada por Cássia Eller, filha amada e saudosa de Brasília e do Brasil. “Quando o segundo sol chegar/ Para realinhar as órbitas dos planetas/ Derrubando com assombro exemplar/ O que os astrônomos diriam se tratar de um novo cometa./ Não digo que não me surpreendi/ Antes que visse, você disse./ E eu não pude acreditar”…
Conjecturo: descartável mágica da ficção, ardilosamente embalada em avançados recursos da tecnologia na arte do entretenimento? Premonição, ornada de criativo e competente formato cênico e dramatúrgico tocado por formidável e caro elenco de criadores e realizadores, atores, atrizes, técnicos e produtores? Ou antevisão do que parece estar a caminho em ano de eleições gerais?.
O jornalista – no meio do implacável BA x VI de polêmicas e discórdias nas redes sociais, adianta :seguirá ligado no enredo, divertindo-se e buscando informações que ajudem a esclarecer dúvidas e suspeitas que rolam por aí. Algumas delas, do lado mais obscuro do cenário histórico do Santo Antônio Antonio Além do Carmo, bairro da família do cantor de axé protagonista, Beto Falcão ( quando acontece o desastre de avião em cuja lista de passageiros constava o seu nome, na rota Salvador-Aracaju.
A notícia assanha o ninho de aves de rapina, no pacato ambiente de pessoas simples e de boa fé, das quais sabichões tiram proveito, enquanto tocam seus interesses mais rasteiros e vis. Malandros, a começar pelo irmão e golpista e a mulher carreirista do cantor, para quem Beto vale mais morto do que vivo. No entorno, governantes, políticos e negociantes corruptos e corruptores, jornalistas complacentes da imprensa conivente. Fauna exemplarmente mostrada nas cenas de homenagem ao “morto”, na Fonte Nova. Antigo “templo sagrado” de futebol , que virou uma das “arenas da corrupção e da propina”, da era Lava Jato. E o Farol da Barra, ponto inicial do endinheirado circuito carnavalesco Barra/Ondina, um dos referenciais do folhetim “Segundo Sol”. Paraíso de escandalosas e incríveis transações (de sexo, política e negociatas), a exemplo das mostradas, fortemente, nas imagens e diálogos no interior de luxuoso camarote, no primeiro capítulo.
No dia seguinte, a “vida real”. Margarida, com o jornal aberto na mesa na hora do café, alerta. “Já viu a notinha que está lá em baixo na coluna política da Tribuna da Bahia?”. Digo que não e a jornalista, em tempo integral, lê para mim: “De fato novo, só os rumores captados de que, com cautela, está em andamento um movimento que resultaria no lançamento do nome do ex-ministro do STF, Carlos Ayres Brito, para ocupar o mesmo espaço de Joaquim Barbosa (de candidato outsider a presidente da República). Mais não digo, porque esta é outra novela e o espaço acabou.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
Caro Vitor,
Li com atenção sua crônica e, como sempre, sua capacidade de arguto observador me despertou a curiosidade sobre a novela, tal como ocorreu no passado com “Velho Chico”. Se realmente a ficção entronizou no horário nobre da emissora a política como argumento principal, o palco só poderia ser Salvador da Bahia, talvez o único estado do país onde as facções litigantes se espelham tanto uma na outra que bebem na mesma fonte, utilizamos mesmos esquemas, o velho e o novo se confundem a tal ponto que não há ambiente para mudança alguma. Agora só nos resta acompanhar o desenrolar da trama para confirmar a velha crença de que a distância é elemento necessário para a percepção do real.
Quanto a possível candidatura de Ayres Britto, vejo no ex-Ministro do Supremo capacidade de articulação e liderança muito maiores que a de Joaquim Barbosa para urdir e consolidar um projeto bem sucedido. Em matéria de lealdade, honestidade e espírito público eles se igualam. Se Barbosa se notabilizou por haver proferido o voto vencedor no processo do “mensalão”, foi porque Ayres estava lá na presidência do Supremo e lhe deu suporte para que o julgamento ocorresse. Torço para que essa hipótese se concretize.
Lucia:
Seu comentário sobre o artigo desta semana me deixa muito feliz. Expressa, com perfeito e inteligente entendimento do enfoque deste jornalista no artigo desta semana. Incluindo a parte final, sobre Ayres Britto. Vamos esperar um pouco mais, e conferir. Forte abraço e chega mais.