Gilberto Menezes Côrtes
Maior banco do paÃs, o Itaú, controlado pelas famÃlias Setúbal, Villela e Moreira Salles teve ganho de R$ 24,9 bilhões no ano passado, com alta de 10,7%. No Bradesco, que tem entre os acionistas Denise Aguiar Alvarez, neta do fundador Amador Aguiar, o lucro de R$ 14,65 bilhões cresceu 11,9% sobre 2016. A maior expansão, de 44,5%, foi do espanhol Santander, controlado por Ana Botin. O Safra, de Joseph Safra, um dos brasileiros mais ricos do mundo, ganhou mais 13% (R$ 1,9 bilhão).Â
No Brasil, os juros pagos aos investidores e depositantes em cadernetas de poupança (a taxa Selic) e a inflação descem pelo elevador. Sob o efeito da supersafra de alimentos, a inflação anual baixou de 10,7% em fins de 2015 para 2,86% em janeiro de 2018. Já a taxa Selic baixou 28,9%. Mas os juros bancários parecem descer vagarosamente pela escada. De acordo com o Banco Central, a baixa dos juros médios dos bancos se reduziu em apenas 22,8% no ano passado.Â
Essa dinâmica foi altamente perversa para as famÃlias brasileiras, que, sob a pressão combinada da recessão, com o desemprego e os juros elevados tiveram encolhimento de 7,6% na renda. O cenário desigual agravou o comprometimento da renda com dÃvidas bancárias, que atingiu 60,8% em 2017, de acordo com estudos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A parcela de famÃlias com contas ou dÃvidas em atraso aumentou atingiu 25,4% em 2017, com aumento frente aos 24,2% de 2016
Cartão de crédito é o pesadelo das famÃliasÂ
Os dados são do Banco Central. Em 2017, os juros dos cartões de crédito, que tiram o sono das famÃlias brasileiras, fecharam o ano em 240,7% ao ano. Mas quem estava pendurado e caiu na armadilha do crédito pessoal não consignadoarrumou corda para se enforcar. Embora a média das taxas apuradas pelo BC tenha sido de 113,3% em dezembro de 2017. Na primeira semana de fevereiro houve casos de taxas escandalosas. O Banco Daycoval, cobrava juros de 1.054% ao ano. Uma das campeãs em anúncios na mÃdia, a financeira Crefisa, patrocinadora do Palmeiras, tinha a terceira maior taxa de juros do paÃs: 708,73% ao ano.Â
Mesmo com o grau de comprometido da renda dos brasileiros em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) muito inferior à média mundial, o que coloca o paÃs na 40% posição conforme levantamento do BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais), quando se trata de comparar a relação entre os custos das amortizações das dÃvidas com o tamanho da renda, o Brasil salta para a 11ª posição. O que é explicado pela baixa renda per capita dos brasileiros, de um lado, e as altas taxas de juros bancárias, de outro.Â
Ainda segundo o o Banco Central, no crédito à s famÃlias, a taxa de juros fechou 2017 com o nÃvel médio de 31,9% ao ano. Uma taxa mais de dez vezes superior à taxa anual de inflação, de 2,9%. Uma comparação entre a taxa média de captação dos bancos e a taxa média dos empréstimos, o chamado spread bancário aponta desnÃvel de 18,9 pontos favorável aos bancos. Â
Os lucros dos bancos são ainda engordados pelos R$ 27 bilhões arrecadados no ano passado em tarifas bancárias e nas taxas de administração cobradas na gestão dos recursos geridos pelo sistema bancário (fundos de renda fixa e DIs, fundos de ações, e os fundos de pensão e de previdência). Esta é a área na qual os bancos mais vêm sofrendo concorrência das instituições não bancárias, como fintechs e cooperativas de crédito. A perda diária era de R$ 5 milhões para o sistema. Acossado pela concorrência da XP Investimentos, que não cobrava taxa de administração na gestão de recursos, o maior banco do paÃs comprou 49% do capital da XP. O diretor de XP, Edgar da Costa Ramos, confirmou, porém que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para evitar maior concentração, obrigou o Itaú a manter a isenção de cobrança.