Da Folha de S. Paulo. reproduzido do espaço da autora teatral e cronista, Aninha Franco, no Facebook.
ARTIGO
A caravela vai partir
Bernardo Mello Franco
Em outubro, a Constituição fará 30 anos. Parece pouco, mas não é. O Brasil nunca viveu tanto tempo em democracia. Aos trancos e barrancos, o paÃs busca um rumo. Às vezes, como agora, passa a sensação de que caminha para trás. “É caminhando que se abrem os caminhos”, ensinou Ulysses Guimarães, em 5 de outubro de 1988.
O velhinho sabia das coisas. Ao apresentar a nova Carta, ele lembrou que não bastava mandá-la à gráfica. Os eleitores precisariam fiscalizar seus representantes. “Do presidente da República ao prefeito, do senador ao vereador”, prescreveu.
Por mais que se esforce, o cidadão não pode vigiar o poder sozinho. Depende de uma imprensa livre. Independente. Disposta a mostrar o que os polÃticos tentam esconder. O jornalismo profissional não está imune a erros, mas continua a ser imprescindÃvel. Ainda mais agora, quando o público é bombardeado por notÃcias falsas ao alcance de um clique.
Assumi esta coluna em dezembro de 2014. Não faz tanto tempo, mas o paÃs era bem diferente. Dilma ainda festejava a reeleição. Aécio era aplaudido em restaurantes. Lula descansava tranquilo num sÃtio que não é dele. Sarney continuava a nomear e demitir ministros… Bem, há coisas que nunca mudam no Brasil.
Nestes três anos, nossa jovem democracia viveu sua maior crise. Uma presidente foi derrubada. Seu substituto ficou por um fio. O maior empreiteiro do paÃs foi preso. A polÃtica voltou a dominar as conversas, seja nas redes ou nas mesas de bar.
A Folha me deu a oportunidade de testemunhar a história de perto. Tive liberdade absoluta para informar, analisar e opinar. Vivi a honra de ser colega de Ãdolos na profissão, como Clóvis Rossi, Elio Gaspari e Janio de Freitas. O maior privilégio, no entanto, foi a companhia dos leitores.
Depois de 735 colunas, chegou o momento de me despedir para enfrentar outro desafio. A caravela vai partir, como dizia o doutor Ulysses. Muito obrigado e até a próxima.