Mané Garrincha:um canhoto extraordinário.
E eu que sou direita!!
Arthur Andrade
Altamirando era o melhor jogador do mundo. E era meu colega, rááá!! Tinha orgulho de ser colega dele. TÃnhamos 8 anos.
Mas eu era diferente dele, muito. O melhor jogador do mundo era o que passei a sonhar ser: canhoto!
Ele chutava de esquerda, uaoo!!. Depois vi, também escrevia com a esquerda. Era craque.
Virou minha primeira maluquice. Imitá-lo! Escrever e chutar com a esquerda. Viver na esquerda.
Tentei durante meses com minha mãe na cola. Pra que isso, filho? O mundo é destro e você quer ser canhoto?
A sala de aula era um transtorno. Percebi a ginástica do amigo pra escrever em cadeiras feitas para destros. O mundo era mesmo destro. E até então era um mundo bem confuso…e eu nele, fazendo o que?
E se o mundo fosse canhoto? Ou se o mundo fosse meio a meio?
Perguntas ao vento. Os canhotos são Ãnfima parte da humanidade. Cerca de 4%. Estão entre eles Charles Chaplin e Einstein. Garrincha e Maradona. Paul, Ringo, Jimmi Hendrix, Plant. Marilyn Monroe e Madame Curie. Picasso. Napoleão. Hitler. Alexandre, o grande, Isaac Newton, Michelangelo, Leonardo da Vinci… Caraca!
Mas até Hitler? Sim! Hitler deu uma boa sacudida no mundo. Chaplin também,uao! E da Vinci?!
Virou minha crença. Pra sacudir o mundo tinha que ser canhoto. Tinha que usar a esquerda.
Cansei de treinar, suei, desisti. Recolhi-me a minha insignificância de destro, esse lugar comum da humanidade. O lugar dos 96% restantes, que saco!
A maioria que tem bagunçado, que tropeça e se atrapalha, pra não falar toda verdade.
Mas você não sabe o que sofre uma pessoa canhota, me disse a linda miga artista e terapeuta ali no trajeto do Catete, no Rio.
Fora o incômodo das carteiras da sala de aula, tem o baleado, o pingpong, o volei, tem o violão invertido, tem o karatê, o lado da queda no judô, o aikidô…epa!!
Mulher linda, eu te respeito!
Parte dos 4% da humanidade está na familia dela. Dos 5 irmãos, três são canhotos. Todos passaram por vexames e chacotas. Que idiotice fazer chacota com gente que sacode o mundo!
Ok, ok! Tem uma gente meio estranha entre os canhotos. Ronald Reagan e João Batista Figueredo, Jack o Estripador e Otto Von Bismark.
Mas tem Ghandi pra contrabalançar. Goethe, Kafka, Spike Lee e Billy the Kid. Mozart, Ravel e Caruso. Ainda Bethoven, Paganini e o grande faraó Ramses II, tudo esquerda.
No campo ideológico, o termo “esquerda” surgiu com a Revolução Francesa. No lado esquerdo sentavam os polÃticos contrários ao rei e a favor das igualdades sociais. Do lado direito do parlamento, sentavam os leais à s religiões e ao poder dos monarcas. Os caretas!
Mas a mão direita tem governado o mundo, sim. Nem a Revolução Francesa mudou isso.
A qualquer movimento da mão esquerda, o aparato da direita levanta-se com suas luvas de adamantium e destroça o que vem pela frente. Ou pela esquerda.
Não é à toa que essa mão comanda bancos, indústrias de armas, remédios, alimentos, doenças, virus, os sistemas de informação e toda comunicação do planeta.
A mão direita ganhou até aqui. Nem sei se um dia irá perder algo.
Mas sei que sei e sei que eu ainda vou ganhar.
Vou chutar com a perna esquerda e jogar ping pong com a mão direita dando tchau pro mundo todo.
Cês vão ver!
Arthur Andrade é jornalista, profissional multimÃdia, músico e compositor premiado. Editou, durante anos, uma das mais lidas e importantes colunas polÃticas da imprensa baiana (Bahia com H, no extinto jornal Bahia Hoje). Participou ativamente da fase de criação deste Bahia em Pauta.
É verdade que o jogo pela esquerda tem sido perdido, principalmente porque algumas estrelas canhotas resolveram trair a natureza das coisas e passaram a jogar com a direita. Pior, fazer todo o jogo da direita.
Que texto infeliz!
Sou canhoto, mas o articulista tenta seguir uma linha de extrema intolerância e distorção histórica entre esquerda x direita. Para não falar na eterna visão (mais do mesmo) romântica e ignóbil de uma esquerda que não existe enquanto impõe uma pecha odiosa na direita.
Imaginem se invertêssemos o tom do texto e disséssemos que à esquerda estão os regimes genocidas, os experimentos totalitários defendidos pela academia e o que mais pudermos?
O bravo chega a tal ponto de surrealismo que foi capaz de elencar Reagan como “gente estranha”, ao lado de ‘Jack o Estripador’, enquanto põe para “contrabalancear” um Billy The Kid…
Por fim, devo admitir que considero ainda mais perverso quando um texto pretensamente ingênuo e inocente é carregado por um subtexto notadamente abjeto!