DEU NO BLOG POR ESCRITO (DO JORNALISTA LUIS AUGUSTO GOMES)
“Tropa de choque” atual “fatiou” a lei
O Brasil é pródigo em neologismos e adaptações línguísticas no território político, além do uso correlato, fora de sua acepção principal, de certas palavras e expressões. A imprensa as saúda, acolhe e repete até com certo orgulho, por ter encontrado o jeito de comunicar imediatamente a ideia ao leitor.
No curto período do presidente Fernando Collor, comandada – surpresa! – pelo então deputado Roberto Jefferson, surgiu a “tropa de choque”, braço executor, no Congresso, da filosofia do “bateu, levou”, praticada pelo governo, conforme oficializou, na época, o assessor de imprensa, jornalista Cláudio Humberto, que ainda hoje escreve por aí
Já tivemos a “fadiga de material”, do jargão da aviação, para explicar a perda do governo por um partido depois de muitos anos, sem que tenha cometido algum erro em especial, mas pela necessidade que o eleitor vê, periodicamente, de fazer mudanças. Outro dia, vimos a presidente ser cassada pelo “conjunto da obra”, que é coisa do Oscar.
Os verbos também são largamente manipulados. “Blindar” é usado para definir a proteção que se dá a certo político, para protegê-lo de crimes ou erros cometidos. “Contaminar” deixou o domínio da patologia para significar fatos que poderão imiscuir-se num processo, prejudicando-o.
A moda agora é “fatiar”. Aliás, não tão recente, pois já foi citado no processo do mensalão. Ocorre que o “fatiamento”, desta vez, picotou a Constituição. O Senado virou rotisseria, a “fatia” mais saborosa foi para Michel Temer, mas Dilma não deixou de levar a sua raspa.
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“Levandô, o fatiador”, conseguiu o que tanto perseguiu, um lugar de destaque na história tupiniquim. A “exegese gourmet”, concebida em jantar lusitano, cria musculatura, revoluciona a hierarquia das normas, o Regimento do Senado sobrepõe-se à constituição. “Levandô”, quem diria, é revolucionário!
Renan respira aliviado, com sorte o STF manterá inertes, em gaveta suprema, seus inquéritos até a eclosão das devidas prescrições. Nada como conhecer os seus.