A tocha olímpica em Paulo Afonso
A Chama Olímpica na terra da luz
Janio Ferreira Soares
Assim que meu velho amigo Sabiá começou a cruzar os céus de Paulo Afonso com faíscas brotando dos pés como se fora um Corisco lampejando raios no entardecer do sertão, o menino gritou: “lá vem a Tocha voando, mãe!”. Na folia do momento, cheguei a pensar em pegá-lo nos braços e dizer: “não, meu garoto, aquilo são fogos de artifício. A verdadeira Tocha vem presa no seu peito e só será acesa quando ele pousar bem aqui, ó!”, e aí apontaria para o círculo onde o nosso homem-pássaro aterrissou com o requinte dos avoantes, mas o tempo é breve e a vida, ah!, a vida é mais vupt ainda para desfazer fantasias infantis com explicações desnecessárias, que só iriam lhe impedir de contar aos seus filhos e netos que num anoitecer de maio de 16, ele viu o Fogo Olímpico voando sobre sua cabeça e depois descendo de Rapel sobre as águas iluminadas do São Francisco; e depois dentro de um barco com 20 canoeiros coreografando remadas; e depois suavemente deslizando sobre o espelho centelhado pelo brilho de um lume que, como o amor de Vinicius, logo apagará – posto que é chama – mas continuará eternamente aceso na lanterna da memória de milhares de ribeirinhos apaixonados por um Rio que segue infinito e ainda com forças para clarear um pedaço do Brasil.
E enquanto o Fogo iluminava sorrisos e arrepiava peles, lembrei das primeiras reuniões com Rian e Filippo, gerentes da Rio 2016 e figuras essenciais para a concretização dessas loucuras. Lembrei também do acaso, outro velho parceiro sempre presente quando o astral é bom, que conspirou à perfeição para que Sabiá estivesse por aqui no dia de uma reunião. E sabe como tudo foi decidido? Entre brindes, Beatles e boas risadas no quintal de minha casa, que coisas que envolvem emoções não devem ser discutidas em reuniões com cafezinhos nas mãos e falas burocráticas nas bocas.
Missão cumprida, abro uma latinha, seguro a aba do chapéu que o vento açoita e sigo de mãos dadas com o invisível que me protege desde o dia em que Cecília me deu ao sertão.
Janio Ferreira Soares, cronista, é secretário de Cultura de Paulo Afonso, na margem baiana do Rio São Francisco