Francisco, Malala, Snowden: favoritos
na bolsa de apostas do Nobel 2014
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DEU NO PÚBLICO, DE LISBOA
Como todos os anos, os rumores circulam a grande velocidade em Oslo sobre a quem será atribuído o Prêmio Nobel da Paz na próxima sexta-feira, 10: há muitos nomes circulando boca a boca mas nenhum se destaca pelo seu favoritismo.
Desde a jovem paquistanesa Malala, já dada como finalista no ano passado, ao controverso Edward Snowden, passando por um grupo de pacifistas japoneses, opositores russos ou ainda o Papa Francisco, a lista de candidatos é vasta.
“A política russa na Ucrânia, com a anexação da Crimeia e a violação das fronteiras, mas também o tratamento reservado aos críticos do Kremlin não pode passar despercebida ao comitê Nobel”, considera Antoine Jacob, jornalista francês autor de História do Prêmio Nobel.
Para o presidente do comitê Thorbjoern Jagland, “sancionar Moscou seria também um meio de demonstrar que atua de forma independente, apesar de ser secretário-geral do Conselho da Europa, de que a Rússia faz parte”, explica Jacob.
Fundado pelo ex-presidente soviético com o cheque que recebeu pelo Nobel da Paz que lhe foi dado em 1990, o jornal Novaïa Gazeta, raro meio de comunicação ainda independente e que já viu vários dos seus jornalistas serem assassinados, está entre os possíveis laureados.
Apostar num vencedor torna-se ainda mais difícil para este ano, já que o comitê Nobel recebeu um número recorde de 278 candidaturas, cuja identidade é mantida secreta por um período mínimo de 50 anos.
Os analistas e apostadores só têm por instrumento de trabalho os nomes que são divulgados publicamente pelos patrocinadores das candidaturas. E esses não são muitos
Herói para um, traidor para outros, o ex-consultor da Agência de Segurança Americana (NSA), Edward Snowden, que revelou a magnitude do programa de vigilância norte-americano, foi proposto para o Nobel da Paz por um grupo de deputados noruegueses.
Refugiado em Moscou, ele próprio diz não acreditar que vá ser o escolhido na sexta-feira. “É pouco provável que o comitê Nobel apoie uma coisa deste gênero”, disse recentemente numa videoconferência.
Observador atento das escolhas do Nobel, o diretor do Instituto de pesquisa sobre a paz de Oslo (Prio), Kristian Berg Harpviken, aposta na vitória de um grupo “japoneses que defendem o artigo 9”.
Estes militantes dizem-se empenhados em preservar o pacifismo que está consagrado na Constituição nipônica (no artigo 9), à qual o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe introduziu uma nova interpretação que permite a participação das forças de autodefesa do país em operações militares externas de apoio a países aliados.
“Podemos considerar que as guerras entre estados fazem quase parte do passado depois do fim da Guerra Fria, mas os acontecimentos na Ucrânia e as tensões que estão a fermentar na Ásia Oriental recordam-nos que elas podem ressurgir”.
A adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, que se tornou a besta negra dos talibans, é a preferida , um trio de historiadores especialista do Nobel, pelo seu combate a favor da educação das adolescentes no mundo. Mas a sua juventude poderá, ainda este ano, jogar contra ela, por o comitê poder considerar que o Nobel da Paz é um fardo demasiado pesado para ser carregado por uma moça de 17 anos.
Entre os outros candidatos, encontram-se os “habitués”, como o médico congolês Denis Mukwege, que trata há 25 anos de mulheres vítimas de violência sexual utilizada como arma de guerra na República Democrática do Congo, e o militante bielorrusso dos direitos humanos, Ales Beliatski, libertado da prisão no passado mês de Junho.
As casas de apostas dão o Papa Francisco como o seu favorito.