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Artigo/ Opinião
Racismo na Libertadores
Marinaldo Mira
Os brasileiros estão indignados, mais uma vez, e, com razão, com novo caso de demonstração de racismo no esporte, agora, no futebol, envolvendo o volante Tinga, jogador do Cruzeiro de Belo Horizonte. Todas as manifestações contrárias à prática de racismo, seja no esporte, ou em outras atividades são válidas e pertinentes.
Devemos também acreditar que a população peruana, estimada em 28 milhões, de origem multiética, com alto grau de mestiçagem, não seja racista nem concorde com o comportamento dos torcedores do Real Garcilaso. Os peruanos não são racistas, mas os torcedores desse clube de futebol, sim.
Com o estádio quase lotado, em partida válida pela Copa Libertadores, torneio mais importantes das Américas, o futebol em si saiu manchado por atos racistas. Toda vez que o jogador brasileiro tocava na bola, ouvia insultos dos torcedores, no segundo tempo da partida, com gestos e sons semelhantes aos emitidos por macacos, prática comum na Europa.
Chateado e inconformado com a situação, o jogador repudiou o episódio e disse que trocaria todos os títulos conquistados na carreira por um mundo sem preconceito e igual para todas as raças e classes. O resultado da partida (derrota do Cruzeiro) ficou em segundo plano, já que a notícia mais veiculada na mídia foi o comportamento da torcida da casa.
Vale lembrar que a população peruana tem alto grau de mestiçagem, incluindo ameríndios, europeus, africanos e asiáticos. Estudo genético de DNA autossômico, realizado em 2008, pela Universidade de Brasília (UnB) indica que a composição da população do Peru é a seguinte: 73% de contribuição indígena, 15,10% de contribuição europeia e 11,90% de contribuição africana.
Diante disso, não cabe, nem justifica, no século XXI, esse evidente e exacerbado preconceito contra negros, se os próprios peruanos também têm origens africanas, como nós brasileiros, e muitos povos desta região.
E, o pior de tudo: até agora não há como erradicar essa prática dos estádios ou outras praças de esportes. Autoridades desportivas não conseguem punição para esses torcedores e a impunidade parece que vai continuar.
Uma constatação: as cenas lamentáveis exibidas pela TV apontam para uma torcida formada por pessoas mal educadas, sem cultura, ou melhor, estúpidas, mesmo !
Marinaldo Mira – Jornalista (Ufba/1980), cronista esportivo e professor de Ética. (marinaldomira@gmail.com)
Correção: onde lê-se origem multiética leia origem multiétnica
Mais uma vez, parabéns Mira. O sábio Prof Ambrósio já vislumbrava o seu talento desde a década de 70.