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Viajante de um mundo de utopia!
Cida Torneros:
Muitas são as formas de iludir-se diante do mundo violento que nos sufoca. Uma delas, seria desligar-se totalmente dos canais de comunicação e viver no isolamento do não saber.
Se as imagens da violência das torcidas de futebol não tivesse passado ao vivo e a cores na televisão, se o crime que vitimou o pequeno Joaquim fosse um enredo macabro de um seriado, se a crescente aceleração de ataques a mulheres incluindo estupros e assassinatos estivesse em dados sigilosos, se eu pudesse ignorar o nÃvel baixo de atendimento na saúde pública ou o alcance Ãnfimo da escolaridade nos percentuais de educação.
Talvez, se as personagens de novela de grande audiência não envenenassem alguém, por vingança, tornando-o cego, ou se , as ações de matar, roubar e denegrir não me fossem empurradas goela abaixo como situações quase normais.
Ou mesmo se a justiça tratasse a constatada corrupção politica no seu conteúdo igualitário, não importando quem ou que partidos por ela tenham resvalado, e a gente se sentisse realmente protegido por leis ou por juÃzes do bem, ainda assim, eu seria a viajante de um mundo utópico.
Quem me daria a palavra falada, sem precisar da escrita, das provas, etc, de que o inconsciente de uma sociedade violenta não é alimentado pelos bastidores da sua mÃdia, da sua publicidade, do seu modelo consumista capitalista, de corrida ao ouro, do tráfico de influências, de polÃcia corrompida, inversão de valores, refens dos vÃcios, doenças da compulsão, os medos, as inseguranças , um oceano de intempéries, as religiões anestesiantes, os medicamentos curadores ou alienantes e talvez, quem saberia, uma paz que eu sonhei, de profunda ignorância?
O tal mundo utópico ao qual vivo viajando, onde ficará? Além do horizonte, depois da linha do arco-Ãris, onde Judas perdeu as botas e onde quem tem olho é rei, terra de cego ou terra de surdo, reduto de gente muda.
Viajante tola, sou mesmo, sei disso, pássaro que não voa, rainha da covardia, pois só quero mesmo é fugir de tanta má notÃcia, e encontrar algum amor de verdade, alguma paz de espÃrito e algum lugar para me esconder ou um colchão morno onde eu me aqueça e me sinta, enfim, viva!
Maria Aparecida Torneros da Silva, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, edita o Blog da Mulher Necessária, onde este artigo foi publicado originalmente
Uns vão pra Pasárgada, outros, pra Suécia, outros, pra Jacarepaguá… Há quem fuja pra poesia de Drummond, pras histórias de Ana Maria Machado, porque está mesmo difÃcil conviver com tudo isso que o século XXI está nos trazendo, amiga. Vamos à Europa em 2014? Eu nem quero imaginar como isso aqui vai ficar na Copa!