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O Papa e o jornalista Gerson Camarotti
Maria Aparecida Torneros
Na história de todo jornalista, sempre haverá a busca pela sonhada entrevista exclusiva, aquela reveladora, a tal que envolve aventuras e negociações para ser concedida, ou que cai do céu como milagre em dado momento e o “furo” acontece e a notÃcia repercute, servindo, inclusive, como pauta para novas investidas ou especulações que se incumbem de realimentar a mÃdia sedenta de descobertas quanto a rumos, decisões ou posturas, novas diante de velhos problemas.
O Papa Francisco, que na viagem ao Brasil, revelou-se um desenvolto comunicador de massas, atuando com generoso carisma em defesa dos pobres e injustiçados, representando o papel que lhe cabe com a santidade acrescida da moderna instrumentalização cibernetica, um pontÃfice tweiteiro, antenado, cordial, apreciador de tango, alem de torcedor de futebol, não se furtou em responder à s perguntas oportunas do jornalista da Globo News, o atento pernambucano Gerson Camarotti.
Tendo acompanhado os passos do ainda Cardeal Jorge Mario Bergoglio, antes e durante a realização do conclave em Roma, que o elegeu novo Papa, Camarotti publicou um livro relatando os bastidores da escolha do primeiro Papa Latino Americano e, com reverente profissionalismo, realizou a entrevista que tem sido reproduzida, no todo ou em partes, oferecendo pontos dignos de análises tanto religiosas, como politicas, ou até sob o ponto de vista psicologico, pois o homem que atende agora pela denominação de Papa Francisco, deixou-se observar em opiniões e questões não somente ligadas ao seu ofÃcio publico de bispo de Roma, mas confidenciou, com simplicidade e sinceras palavras que preferiu morar na residência Santa Marta porque não gosta do isolamento e teria que buscar um psiquiatra, para superar a solidão.
Declaração inusitada para um religioso, a priori, mas, considerando-se que a própria entrevista conduziu-se pelo ineditismo no curso da estada do Papa em terras brasileiras, durante o evento católico da Jornada Mundial da Juventude, há, consequentemente, mérito, tanto por parte do entrevistado, destemido, claro, ciente do que devia ou podia dizer a cada instante dos 45 minutos de conversa, quanto do repórter, cuja habilidade em provocar respostas não evasivas, resgata, de certo modo, o prazer da comunicação menos marqueteira e mais humano-realista.
Os desdobramentos já se fazem soar, tanto no comportamento da imprensa credenciada que, no vôo de volta a Roma, pôde questionar Francisco em coletiva também recheada de respostas diretas e incisivas, quanto foi flagrante a inteligente sucessão do próprio Papa ao acrescentar novidades que apontam para mudanças na Cúria e nos olhares da Igreja de Roma para temas como lobby gay, comunhão aos divorciados, destino do banco do Vaticano, entre outros.
No seu blog, Camarotti conta que o pedido da entrevista, por meios oficiais, havia sido negado pelo Vaticano, mas, vias e fontes, concorreram para que lhe fosse dada a oportunidade de realiza-la, sendo que ao entregar um exemplar autografado do seu livro no inÃcio do encontro naquela tarde na residência do Sumaré no Rio de Janeiro, quem o surpreendeu foi Francisco, que lhe disse que havia lido vários trechos da obra e lhe fez uma pergunta:-“Como é que você sabe tanta coisa?”
Dali em diante, o Papa Francisco demonstrou , seguramente, que já assumiu o posto de um pauteiro fomentador de notÃcias que demandam, em contra-ponto, um contingente de jornalistas observadores em plantões ininterruptos, tendo em vista que novos tempos e novos rumos apontam simplicidade e humildade, mudanças e inesgotáveis temas para sacudir mÃdias viciadas com a acomodada previsibilidade, que Francisco, delicadamente, rompeu.
Como ele se auto definiu, indisciplinado em questões de segurança fisica, mostrou-se, sobretudo, destemido, com a exposição de idéias diante da surpresa do jornalista e do público em geral, a partir da conversa com o atento Gerson.
Maria Aparecida Torneros, jornalista, escritora, mora no Rio de Janeiro, de onde colabora com o BP .Este texto foi publicado originalmente no Blog da Cida
Gerson Camarote afirmou que tudo começou no Recife, acompanhando Dom Helder desde menino. Seu guia para sempre.
Corrigindo o nome do repórter: Gerson Camarotti afirmou que tudo começou no Recife, acompanhando Dom Helder desde menino. Seu guia para sempre.
Oi, Olivia!
Dom Helder era mesmo um anjo, eu o entrevistei em 1970, quando era estagiária na assessoria de imprensa no velho aeroporto do Galeão, mas, na Ditadura, nada foi publicado. Entretanto, a Luz dele é inesquecÃvel e o Gerson está bem iluminado! Bjs
Isso, Cida, um anjo bom. Beleza de artigo, querida.