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SENTIR-SE BRASILEIRA OU BRASILEIRO!
Maria Aparecida Torneros
Aconteceu em Toledo, Espanha, em 2009. Era um daqueles passeios turÃsticos que saem bem cedo de Madri em direção a Toledo. Eu e três amigas brasileiras, pela primeira vez na Europa, estávamos ansiosas para conhecer a cidade histórica que nos atraÃa por sua localização montanhosa e suas lendas em torno das guerras religiosas. Enquanto o ônibus de turismo não saÃa da porta do hotel, todos conversavam. Repentinamente, ouvimos uma senhora que tentava atender à guia, esta pedindo silêncio pois ia dar as instruções do dia, ouvimos bem: Son las brasileñas que estan a hacer confusión!”.
Minha amiga Zá logo respondeu em voz alta…Pera aÃ, todos estão falando, por que esta discriminação conosco?
Claro que logo eu, Re e Tati, a acompanhamos no protesto. E me lembrei que levo sempre, nas minhas viagens um lenço com a bandeira brasileira estampada. Tirei da bolsa, pus no pescoço, como um sinal de orgulho por ser sim, uma brasileira, e gozar da fama de ser alegre e confiante. Esta é uma imagem generalizada que o mundo nos atribui. Somos um povo cujo calor humano ultrapassa as fronteiras e a disposição de viver feliz parece se sobrepor à s agruras econômico-sociais. O paÃs do carnaval, do futebol, dos mares imensos, da Amazônia imponente, das florestas, das diferenças, da miscigenação racial, do samba, das novas tecnologias, da Bossa Nova, das praias paradisÃacas, da feijoada, da caipirinha, da goiabada, do sincretismo religioso, das lutas em fases ditatoriais e da história de bravos.
Sentir-se brasileiro fora do Brasil é se orgulhar de singrar as velas pelos mares do mundo com a certeza de representar uma nova era, a era da população da América do Sul, aquela terra conquistada por espanhóis e portugueses, que suscitou garra para que se tornasse indempendente dos seus colonizadores. Guerras de independência se sucederam em muitos pontos do continente. No Brasil, a Bahia foi o exemplo mais marcante, onde homens e mulheres deram suas vidas pela causa do Brasil livre.
Hoje, em 2012, num mundo globalizado e dominado pelo capital flutuante e avassalador, Brasil e todos os paÃses emergentes, navegam as ondas das marés dominantes e se equilibram entre poderosos e rolos compressores que ditam normas, condutas, prognósticos de avanços em pibs e travam, de certo modo, os avanços sociais que os povos explorados tanto almejam e merecem.
Mas o mundo roda, gira, e o Brasil aà está, impondo-se também, na história da humanidade, em momento de auto-avaliação, tarefa para governantes e governados, julgamentos daqueles em que se lava roupa suja em casa e se redirecionam no caminho das necessárias reformas, da legislação eleitoral, esta, que se faz tão urgente, para que o processo decisório de votalão e eleição venha a ser limpo, definitivamente, livre do financiamento privado e viciado.
Sentir-se brasileiro dentro do Brasil é se ver sob um céu azul e um sol forte, seguindo em frente, com esperança no coração e fé no trabalho, na justiça, no time de futebol preferido, na canção que toca a alma e nas cores verde e amarela da nossa bandeira nacional. Sentir-se livre é direito de cada brasileira ou brasileiro que habita nossas terras ou que se encontra fora das nossas fronteiras, mas carrega no peito a nossa identidade e pode até levar, como eu, a bandeira num lencinho amarrado no pescoço! Viva o povo brasileiro!
7 de Setembro de 2012
Cida Torneros, jornalista e escritora, colaboradora da primeira hora do BP, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Cida