Meirelles (com Dilma): a bola da vez?
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OPINIÃO POLÍTICA
O recorde de Dilma
Ivan de Carvalho
Tenho repetido aqui com certa freqüência, mesmo com o risco de cansar o leitor, que as aparências muitas vezes enganam. E é assim, efetivamente.
Nas últimas poucas semanas, parecia que havia sido afinal interrompida a queda de ministros do governo Dilma Rousseff, talvez presidente recordista (não estou no horário em que escrevo com tempo para fazer uma pesquisa respeitável sobre o assunto) em queda de ministros nos primeiros oito meses e meio de governo.
E neste espaço, ontem, divertia-me – espero que não haja aborrecido os meus raros leitores – com artigo a que dei o título de “Finanças indiscretas” e no qual abordava ligeiramente vários casos de pessoas que fizeram curiosas e até ridículas operações financeiras e foram apanhadas pela polícia, umas, pela imprensa, outras.
Principal personagem de tal artigo foi exatamente o deputado federal Pedro Novais, maranhense do PMDB indicado pelo presidente do Senado e ex-presidente da República José Sarney para o cargo de ministro do Turismo. Tendo chegado ele, de quem quase nada se ouvira antes falar fora dos limites do distante Maranhão, a cargo de destaque e visibilidade nacional (embora sem grande importância real – salvo pela proximidade da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 – já que o turismo no Brasil ainda tem dimensões ridículas ante o potencial do país no setor), a malvadeza da imprensa começou a esmiuçar-lhe a vida.
Então descobriu-se que providenciara o pagamento de uma festa em um motel com a verba de indenização que a Câmara lhe paga para cobrir despesas com o mandato (e não para coberturas que nada têm a ver com o interesse público, mas com o instinto privado). Mesmo assim o danado ia ficando no cargo, até que a Folha de S. Paulo deu com as letras no papel, anunciando que Novais pagara com verbas de gabinete da Câmara uma governanta e um motorista para sua família (não se trata do motorista oficial dele).
Aí não deu mais: por pressão da presidente Dilma e do próprio PMDB, que não queriam assumir tanto desgaste político, decidiu-se que o ministro do Turismo faria uma carta de demissão. Fez ontem, entregou e a presidente aceitou o pedido feito com tanta falta de vontade. As aparências de que Novais ia, graças ao poder de Sarney, aguentar-se por mais uns tempos, eram enganosas. Bastaram uma governanta e um motorista… Esse pessoal miúdo é soda!
Agora, ressalvada alguma pesquisa profunda da história do Brasil, a presidente Dilma, talvez orgulhosa, talvez surpresa e preocupada, ostenta seu recorde: Antônio Palocci, do PT, cai, por ascensão excepcional do seu patrimônio, do cargo de ministro-chefe da Casa Civil; Wagner Rossi, do PMDB, sobe em um jatinho emprestado pela empresa Ourofino Agronegócios e cai do Ministério da Agricultura; Alfredo Nascimento, presidente do PR, cai do Ministério dos Transportes, contra o qual choviam denúncias de corrupção, superfaturamento, essas coisas; Luiz Sérgio cai, por absoluta incapacidade para a função, da Secretaria de Relações Institucionais, que tem status de ministério, e vai para a Secretaria Especial da Pesca e Aquicultura, com status idem e onde a senadora Ideli Salvatti não conseguia distinguir uma sardinha de um tubarão – Ideli tem sua incompetência premiada com o cargo antes ocupado por Luiz Sérgio, onde apresenta desempenho melhor que o dele, o que não é lá grande galardão; Nelson Jobim, de saco cheio com seu pouco prestígio no governo Dilma, incompatível com seu ego ilimitado, age e fala para obrigar a presidente a decidir desfazer-se dele e consegue.
Finalmente, do Turismo cai Pedro Novais. Bem, comenta-se que não acabou. Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante todo o governo Lula e agora presidente da Autoridade Pública Olímpica, pode ser o próximo a sair. Estuda propostas da iniciativa privada. É que a função com que lhe acenaram seria muito mais ampla do aquela que lhe acabaram entregando.
Caro Ivan de Carvalho
E por falar em diversão…
De uma lado a imprensa, agora secundada por manifestações que pipocam aqui e acolá.
De outro lado, sempre em viés equivocado, a dupla “Simon
Quixote” e “Cristovam Pança” oferecendo-se à presidente, como substitutos à tal base aliada.
Renegam a CPI e atribuem as quedas não ao clamor nacional, mas sim à uma convicta vocação de faxineira de Dona Dilma.
Dizem que CPIs acabam em nada, ou melhor em pizzas, e docemente ampliam a base governista.
Sequer imaginam que o clamor nacional, repercutido pela imprensa, transformaria qualquer atitude de abafa na CPI em suicídio político, imagine, Caro Ivan, os corredores do congresso lotados de manifestantes, afora o cruel desnude da transmissão ao vivo das ações e hesitações dos parlamentares.
Mas, Pedro Simon e Cristovam Buarque, preferem aplaudir quem não lhes pediu apoio.
De resto, só para apimentar o momento, é didático anotar que Cristovam, o Buarque, foi condenado por improbidade administrativa pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, acusado que é de utilizar dinheiro público para produzir material publicitário com fins eleitorais em 1995, época em que era governador do DF.
Como pode perceber, o chapéu é cinza, nada mais resta do velho e bom chapéu branco que vestia os mocinhos dos filmes de bang-bang de antigamente.
Todos parecem ser pardos…
Essa a diversão, ou seria cinismo?
E por falar em silêncio…
Nem Pedro Simon, muito menos Cristovam Buarque, compareceram à tribuna do senado na tarde de ontém.
Ao que parece, a tentativa de assenhorarem-se dos movimentos populares contra a corrupção, sofreu um abalo, face à condenação por improbidade do senador Buarque.
Afinal, como prega Simon, condenação por Tribunal não pode ser ignorada.
Ou não?