Retrato da destruição/DN
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DEU NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS (PORTUGAL)
POR SUZANA SALVADOR (HOJE)
Pelo menos 41 pessoas morreram por causa das inundações em Alagoas e Pernabuco. Chuvas vão continuar.
Uns comparam a destruição à do tsunami no Sudeste Asiático, em 2004, outros ao sismo do Haiti, em Janeiro deste ano. As cheias nos estados brasileiros de Alagoas e de Pernambuco deixaram cidades arrasadas e um balanço provisório de 41 mortos. Há ainda mais de 600 desaparecidos e 150 mil desalojados. Os sobreviventes não têm o que comer: “Tá uma fome que só Deus sabe”, desabafou Anamara da Silva, aposentada de 65 anos, ao jornal a Folha de S. Paulo.
A chuva começou a cair na sexta-feira e, de um momento para o outro, houve cidades que ficaram debaixo de água. Em União dos Palmares e Branquinha, em Alagoas, o rio Mundaú subiu pelo menos cinco metros depois de uma barragem ter cedido sob a pressão das águas. Apesar do tempo ter melhorado no fim-de-semana, a chuva regressou ontem e deve continuar nos próximos dias. As autoridades deixam o alerta, lembrando que os solos saturados não devem aguentar mais água e que são esperadas novas cheias.
“Sempre teve enchente, mas sempre a água baixava logo, não cobria as casas. Só que dessa vez só deu tempo de sair com a roupa. Foi rápido demais, perdemos tudo”, afirmou José Izidoro, de União dos Palmares – onde há pelo menos 500 desaparecidos. “Só não foi pior porque foi de dia. Se fosse à noite e não víssemos a água, teriam morrido milhares”, acrescentou José Amauri, que viu a sua oficina ficar destruída.
“Tem cidades em que dá a impressão de que soltaram uma bomba atômica. A cidade inteira foi ao chão”, desabafou o governador de Alagoas. Teotônio Vilela Filho foi ainda o responsável pela comparação com o sismo: “É uma coisa parecida com o que aconteceu no Haiti, só que em proporções localizadas porque foi nos municípios que margeiam os rios Paraíba e Mundaú.” Para agravar a situação, o governador lembra que mais de metade da população do seu estado vive na pobreza.
O presidente brasileiro, Lula da Silva, disse que a situação exige um “esforço de guerra” e mobilizou as Forças Armadas. Além disso, enviou os seus ministros avaliarem os estragos, anunciando a disponibilização de uma verba de 150 milhões de reais (quase 70 milhões de euros) para a recuperação da região.
Foram ainda enviadas mais de 15 mil “cestas básicas” , com alimentos, sendo outra das preocupações o fornecimento de água – e de electricidade. Em Pernambuco, uma mulher contou à Folha de S. Paulo que mesmo quem tem dinheiro não consegue comprar nada. Num local, onde antes os garrafões de água eram vendidos a 3,50 reais (1,60 euros), custam agora 20 reais (mais de nove euros). Em várias zonas, por causa da destruição de pontes e do corte de estradas, os bens só podem chegar aos mais necessitados por ar.
As autoridades apelam à doação de bens para ajudar os 73 mil desalojados em Alagoas, onde o número de mortos chega aos 29, e as 42 mil pessoas que tiveram de fugir de casa em Pernambuco, onde pelo menos seis mil casas foram totalmente destruídas e há registo de 12 vítimas mortais.