Corrupção e Violência:i~mãos siameses
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OPINIÃO/ VISÃO CRÍTICA
CORRUPÇÃO E VIOLÊNCIA
Rosane Santana
Com as pesquisas qualitativas a indicarem a Segurança Pública, como o calcanhar-de-aquiles dos governos estaduais em todo o Brasil, inclusive na Bahia, às vésperas das eleições majoritárias é comum aparecerem, de última hora, “candidatos especialistas” em soluções para o problema da violência. A maioria da população não sabe, entretanto, que o aumento da criminalidade, direta ou indiretamente, guarda estreita relação com a corrupção na esfera política.
Segundo estudiosos, a corrupção política, que é crime, além de desviar recursos públicos de serviços essenciais ao bem-estar da população em benefício de grupos privados, também favorece atividades ilícitas como lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e prostituição, entre outras. A prática, estimulada pela impunidade, está atraindo o crime organizado para dentro do País, de acordo com a pesquisadora da Universidade de Brasília (UNB), Lígia Pavan Baptista, responsável pela implantação da Biblioteca Virtual Sobre Corrupção, da Controladoria Geral da União (CGU).
De 1 a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), valor estimado em um mínimo de R$ 30 bilhões de reais, é o custo anual da corrupção para a economia brasileira, segundo dados recentes da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Órgãos de Controle administrativo, como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) admitem que a corrupção é praticada com a participação de funcionários públicos e políticos em diversas esferas – prefeitos, vereadores, deputados, senadores etc. – em benefício próprio e de grupos privados envolvidos no negócio.
Do que foi detectado pela CGU, no período entre 2003 e 2007, os setores mais prejudicados pelos desvios são saúde, com 613 milhões, seguido pela educação, com 470 milhões. Ao impedir que a população carente tenha acesso a políticas públicas em áreas essenciais à melhoria da qualidade de vida, a corrupção contribui para aumentar a exclusão social e a violência, restringindo a cidadania e condenando o País a um ciclo vicioso de miséria e desigualdade. Combatê-la, portanto, ainda é o melhor remédio para diminuir a escalada do crime no Brasil
Não se pode dizer, evidentemente, que todos os políticos são corruptos. Mas, a lentidão das casas legislativas em tomarem providências contra os seus integrantes flagrados em desvios e as brechas encontradas na lei para que os corruptos escapem no Judiciário acabam por colocar em descrédito toda a classe, levando o País a iminência de uma crise institucional, diante da falsa percepção de que a política é sempre território de atividades ilícitas.
O Poder Legislativo é colocado em xeque, com boa parte do eleitorado questionando a existência da instituição, como adverte a Transparência Brasil,e o Judiciário, pela brandura com que tem tratado os corruptos no país, cai em descrédito absoluto, reforçando a idéia de que a cadeia é somente para pobres. Essa conjuntura, naturalmente, gera um clima de impunidade que favorece ainda mais a escalada da violência, as aventuras autoritárias de poder, com a supressão das liberdades democráticas, e o aumento da corrupção.
Rosane Santana, jornalista, mestre em História pela UFBA, mora em Boston e estuda na Universidade de Harvard).