Deu na Tribuna da Bahia
O presidente do Irã, Mahmoud Ahrmadinejad, desembarca no Brasil nesta segunda-feira, 23, na primeira visita de um presidente iraniano ao País, a ser retribuída por Lula no ano que vem. O assunto, que deve ocupar espaços expressivos na mídia na próxima semana, é antecipado por Ivan em seu artigo de hoje na TB, que mexe numa questão das mais explosivas, quando se fala de Ahrmadinejad.
“Se ele sair do Brasil sem uma quente e duas fervendo fervendo pelo que disse do Holocausto (tem direito de dizer, mas convém que alguém o faça também ouvir), nunca mais me ufanarei do meu país”, assinala Ivan de Carvalho, no texto que Bahia em Pauta reproduz a seguir. Confira (VHS)
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Armadinejad no Brasil: polêmica à vista
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ARTIGO/MUNDO
VISITANTE INDESEJADO
Ivan de Carvalho
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, chega ao Brasil na segunda-feira para uma visita de um dia. É a primeira visita de um presidente iraniano ao Brasil e Lula a retribuirá no primeiro trimestre de 2010.
O ponto principal da agenda é o pedido de apoio político do governo Lula para o programa nuclear iraniano. Trata-se, praticamente, de chover no molhado, pois o presidente Lula, por iniciativa própria ou mal aconselhado pelo ministro das Relações Exteriores e pelo seu assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia – aquele do Top-Top-Top do caseiro Francenildo – já anunciou antecipadamente esse apoio, afirmando que o Irã tem direito a um programa nuclear para fins pacíficos.
Com isso, Lula chancela a falsa argumentação do governo iraniano, rejeitada pelos principais protagonistas do cenário internacional, de que o programa nuclear do Irã tem fins pacíficos. Não tem. Vários países importantes tentam uma negociação com o governo de Ahmadinejad a respeito de seu programa nuclear, mas ela não avança.
A primeira atitude iraniana foi a de embaraçar e finalmente cancelar toda fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica sobre o programa nuclear iraniano e, portanto, a produção de combustível nuclear pelo Irã, especialmente no que diz respeito ao enriquecimento de urânio (um caminho para a produção de armas nucleares) e a um subproduto do funcionamento das usinas, o plutônio, com o qual bombas nucleares também são produzidas.
Estados Unidos, Reino Unido, França, China, Rússia, Alemanha e a própria União Européia fizeram uma proposta no sentido de que o urânio enriquecido seria fornecido pelo grupo e especialmente pela Rússia, que tem laços políticos muito fortes com o governo do Irã. Até o momento o Irã vem evitando dar uma resposta, enquanto busca apoios de governos como o de Lula ou do venezuelano Hugo Chávez (com quem nos misturamos, meu Deus!) para resistir à pressão da comunidade internacional.
Descobriu-se no Irã, além das instalações nucleares conhecidas, uma planta nuclear secreta, subterrânea, pequena demais para produzir energia elétrica, mas suficiente para a produção de armas nucleares, certamente com “fins pacíficos”.
Ahmadinejad uma vez negou a existência do Holocausto (a matança de seis milhões de judeus pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial) e pouco tempo depois afirmou que o Holocausto foi apenas uma propaganda mentirosa “para justificar a criação do Estado de Israel”, que ele quer “varrer do mapa”. Cumprirá em Brasília uma agenda que, além de encontro com Lula, inclui uma visita ao Congresso, uma entrevista coletiva à imprensa e discurso seguido de debate com estudantes em uma universidade, segundo a embaixada do Irã. Se ele sair do Brasil sem uma quente e duas fervendo pelo que disse do Holocausto (tem direito de dizer, mas convém que alguém o faça também ouvir), nunca mais me ufanarei do meu país.
Ivan de Carvalho, jornalista político, escreve diariamente na Tribuna da Bahia