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CRÔNICA / ESPIRAL
Presente de Natal
Gilson Nogueira
Uma nota curta, em jornal de grande circulação, informava sobre cursinho grátis de Papai Noel. Para ser bem sucedido nas provas, pensei, basta ter um coração bom. Na mesma edição, um pequeno poema, com o título “Quem eu sou?”, finalizava : “Não sabes quem sou? Sou o amor/A vida/Onde está a chave de seu coração?/Abra a porta e deixe-me entrar.”O achado poético deu-se ao folhear o suplemento infantil do jornal.
Senti-me saboreando letras com gosto de sapoti, groselha, chocolate, pipoca e delícias outras de crianças de todas as idades. Meu peito parecia recheado de ternura, na mensagem do aprendiz de poeta. Logo, uma calda de sorvete de umbu lambuzou minhas utopias. E fiquei, ali, parado, deliciando-me, enquanto, no ventinho frio, que soprava da África, prosseguia olhando o céu, tentando descobrir o urubu que se perdeu nos ares.
O bicho subiu tanto, tanto, na espiral, que, de repente, acima de nuvens, altíssimas, sumiu! Será que estou enxergando direito ou foi o urubu abduzido? A matutar sobre a última hipótese, considerando que os extraterrestres estão habituados a visitar o Planeta Terra, como dizem os ufólogos, admiti que o urubu misterioso havia entrado de gaiato no disco voador. Antes fosse no navio. Mas, que pretendem, mesmo, os alienígenas? Seqüestrar urubus? Cortem essa, bichos!
Os bandidos desse país, sim, merecem isso. Não seria melhor abduzi-los e, depois, jogá-los em um buraco negro,lá, nos confins da eternidade,onde, indistintamente, todos se transformariam em um monte de merda cósmica? Pronto, Papai Noel, nesse Natal, este será o presente do povo brasileiro! Basta, agora, apenas, combinar com os homenzinhos verdes a realização do serviço. Sem custos.
Gilson Nogueira é jornalista