Pedaço do mar…
…guardado na canção
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CRÕNICA DA CIDADE
PEDACINHO DO MAR
Gilson Nogueira
Contento-me com um pedacinho de mar, entre edifícios ao pé do Morro Ipiranga. Enxergo-o, ao longe, do basculante de casa, na impossibilidade de mergulhar nele, no seu azul, pelo menos, hoje. Avistá-lo, assim, não faz diferença. Tenho-o perto, sempre, dentro de mim, em forma de sonho, de canção, de esperança.
O mar é, para mim, mensagem. E, às vezes, meio. Toma-me o mar o pensamento, a certeza e a dúvida. Ainda que o embevecimento, diante de sua beleza, faça-me cantá-lo, sei muito bem que é um bicho traiçoeiro e, poeticamente, espelho do céu. Vida e morte. Sorriso e dor. Entendo-o, por conveniência, mas, não gostaria que fosse assim. O mar tinha que ser livre para as crianças, o tempo todo, como desenho animado.
Respeito-o. Não o desafio. Se o fizer, vou perder. O mar é maior que a aventura. Sinto-me, portanto, vencedor, vivo, dono do mundo, parceiro do silêncio, filho de Deus, agradecido, por saber que o mar é meu e de quem o admira, e não o maltrata.
Ah, seus horizontes! Sempre que os contemplo, fico impedido de ir adiante, nas minhas conjecturas medianas, ao tentar concluir a travessia entre a racionalidade e a loucura, aquela, que não agrada os chatos metidos a saber de tudo.
O mar, paroxismo líquido, incógnita infinita, do peixe e do pescador. E de todos os que o tratam com dignidade, sem querer aproveitar-se de sua inocência, para o mal. Ah, o mar… sem uma ilha, sem um navio, sem um barco, sem uma ave a fazer-lhe companhia, você é um grande solitário ( sabia?), sempre em busca do amanhã! Pretendo encontrá-lo, amigo, logo.
Aí, então, vou molhar os dedos da mão direita em suas águas, dar-lhe um forte abraço e fazer o sinal da cruz, pedindo proteção a Iemanjá. Depois, gritar, bem alto: “ Salve a Bahia, Senhor!!!”
Gilson Nogueira é jornalista