Geddel: elogios a Lula estocadas em Wagner
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ARTIGO / POLÍTICA
COBRA DE DUAS CABECAS
Rosane Santana
Daqui de Boston, onde passo uma temporada de estudos, costumo me surpreender ao acessar os sites baianos de notícia e dar gargalhadas solitárias em frente do computador. Sorry, ou melhor, desculpem-me, mas uma das personagens que mais me fazem rir não é nenhum humorista ou ator baiano, o talentoso Franklin Menezes, por exemplo, mas sua excelência o ministro da Integracão Nacional, Geddel Vieira Lima.
Desde que alçado ao estrelato pelo presidente Lula, que o fez ministro da Integração Nacional (com o aval do governador Jacques Wagner), em retribuição ao papel desempenhado na adesão de uma ala do PMDB ao governo federal, Geddel não para de produzir fatos risíveis.
Sim, porque o ministro que já foi chamado de “percevejo de gabinete” pelo ex-presidente Itamar Franco”, por sua incrível capacidade de mobilização nos bastidores de Brasília, o que lhe valeu, inclusive, absolvição na CPI dos Anões, em 1992, vive a alardear – Laus in ore proprio villescit, elogio de boca propria é vitupério– desapego a cargos públicos e seu compromisso com uma política de princípios. Agora atribui aos novos aliados do governo Jacques Wagner a alcunha de “cobra de duas cabeças”. Sinal de que está incomodado e, por quê?
A publicidade e o marketing, que por dever de ofício vivem de metonímias, têm lá suas razões e poder considerável na política, mesmo aqui nos Estados Unidos, como enfatiza o historiador americano John Lukacs. Imaginem os senhores, num País onde os índices de leitura sao baixíssimos, já nem digo de analfabetismo, porque é repetir o que todo mundo já sabe. Mas nao cabe ao jornalismo reproduzir inocentemente certas bobagens.
Geddel Vieira Lima é um jovem que nasceu e se criou em uma oligarquia nordestina, os Vieira Lima. Sua trajetória política é incompatível com a imagem de modernidade política, que deseja construir. Ele é filho legítimo da política clientelista, oligárquica e mandonista. E é mantido ainda no cargo de ministro por essas circunstâncias que fazem a política uma ação mais pragmática, não confundam, por favor, com programática.
É, entre os politicos baianos, ja disse certa vez, o que melhor encarna o estilo carlista, escola onde iniciou os primeiros passos da vida pública e por muito tempo atuou. Isso pode explicar, inclusive, as constantes desavenças entre ele e o ex-senador ACM, uma vez que este, todo mundo sabe, não admitia concorrentes em seus círculos. E é, por isso mesmo, que a maioria dos carlistas desejam o seu apoio, mas o vêem com certa suspeição, fato que leva a especulações sobre sua volta futura ao governo Wagner.
Por ora, enquanto exalta a ministra e candidata Dilma Rousseff e também o presidente Lula, Geddel estoca o governador Jacques Wagner, que resistiu a apoiar a reeleição de João Henrique, seu candidato, em Salvador, fazendo antítese ao avanço do ministro sobre o espólio carlista nos municípios baianos.
Faz oposição ao governo do estado, mas deseja manter intacta a aliança com o governo federal ( e o cargo de ministro, por “princípio”, está claro) o mesmo que desmantelou o esquema de poder carlista levando Jaques Wagner a uma vitória no primeiro turno. Até quando? Até ficar claro se a candidata de Lula, Dilma Rousseff, terá fôlego para chegar a presidência da República. Ou, podemos vê-lo, ele e os seguidores, empunhando a bandeira do meio ambiente de Marina, ou da ética na política de Heloísa Helena.
E, afinal, quem é a cobra de duas cabeças ministro?
Rosane Santana é jornalista e estuda Política, Educação e Meio Ambiente na Universidade de Harvard (EUA).
Os sites realmente não deveriam publicar certas declarações descabidas. Brilhante artigo.
Rosane querida, vc baiana como eu, gargalha de Boston qdo assiste o “percevejo de gabinete” se mvimentar para manter seu poderio às custas do nosso estado. Eu gargalho do camarote – Brasilia – palco do estrelato do ilustre ministro; com a certeza de que lágrimas seriam mais apropriadas. Ótimo artigo.
Com certeza! É um absurdo e chega a ser agressiva a forma com que esses grupos políticos tem feito política na Bahia! Eles estão sempre seguindo interesses próprios.
Rosane,
Parabéns pela clareza do texto, muito bem articulado.
Abs,
Bené
Caro Bene,
Obrigada, por onde anda você? Quando vi sua mensagem, lembrei dos velhos e bons tempos da TB. Grande abraço.